Alô, alô, barraqueiros!
7 de Setembro! Que data interessante, não? Hoje até muita gente nem dá bola, as escolas não fazem mais desfiles, e as pessoas nem sabem cantar o Hino Nacional, quanto mais o Hino à Independência... né, Vanusa?
Todo mundo conhece a cena: Dom Pedro, montado num belo e branco corcel, às margens do Ipiranga, cercado de soldados, levanta a espada e brada, todo garboso: "Independência ou Morte!" e pronto! Estava separado o Brasil de Portugal, certinho?
Péeeeeeeeeeem! Errado, errado, errado! Não foi beeem assim que as coisas aconteceram (na verdade tá é muito longe de ser do jeito que a gente conhece...).
O Barraco do Leon, num prazeroso esforço de resgate cultural (hum.... metido!), resolve trazer pra vocês, caros patriotas, algumas curiosidades sobre esse momento político e histórico do Brasil que vocês nunca vão ver em livro algum - e muito menos na tevê, internet, e programas sensacionalistas....
A INDEPENDÊNCIA COMO VOCÊ NUNCA VIU:
- Setembro: antes do 7 vem o 2
Que maravilha, né mesmo? Às margens plácidas do Ipiranga, Dom Pedro levantou a espada e proclamou a Independência do Brasil, num Sete de Setembro muito, mas muito distante, mas que a História Oficial fez questão de colar feito chiclete na cabeça dos brasileiros.
Pois saibam vocês, amiguinhos, que, politicamente, a cena de Dom Pedro no Ipiranga não passou de um rompante de príncipe orgulhoso e nada mais. Pensa comigo: Dom Pedro estava embrenhado mata a dentro no interior de São Paulo, portanto não estava na capital do Reino (sim, o Brasil ainda era reino unido com Portugal e Algarves - embora dos Algarves eu nunca tenha visto nem sombra), portanto, não estava despachando oficialmente. Assim, a Independência do Brasil não poderia ser reconhecida pela outras nações do mundo, e principalmente por Portugal, a parte mais interessada (ou, no caso, a parte ferrada, né?).
Mas, então, o Brasil não ficou mesmo independente? Ficou, caros barraqueiros, pelo menos de Portugal, ficou sim (e também ficou mais pobre, endividado até a alma com a Inglaterra e depois com os EUA). Só que a Independência veio, de fato, cinco dias antes, ou seja, no dia Dois de Setembro. Quer saber porquê?
O Brasil parecia uma panela de pressão: era Portugal mandando Dom Pedro voltar, era revolta pipocando no Nordeste, era gente importante fazendo beicinho no Sudeste, era ameaça de invasão portuguesa no Rio de Janeiro... uma verdadeira bomba-relógio, sabe como é? Dom Pedro então, tava rodando mais que caixeiro viajante, e lá se foi pra São Paulo, em agosto de 1822, tentar acalmar o pessoal e conseguir o apoio da província para sua administração, seja lá que rumo ela tomasse.
Dom Pedro, que era príncipe regente do Brasil, antes de sair, no dia 13 de agosto, "passou a faixa" pra sua esposa, a princesa Leopoldina, que passou a "princesa-regente com poderes legais para governar o país" toda a autoridade pra descer a bordoada, caso fosse preciso. Dona Leopoldina não era adepta da bordoada como o marido esquentadinho, mas era filha de Habsburg, oi!, neta de Maria Teresa, a Grande, a maior imperatriz da Áustria! Nessa família, arquiduquesinha não tinha mordomia não: todo mundo acordava cedo, estudava o dia inteiro, aprendia um ofício e tinha uma agenda cheia! Se uma mulher dos Habsburg chegou a ser uma das mais poderosas da Europa, todas as demais tinham que ser preparadas para o que desse e viesse! Assim, dá pra ver que Leopoldina era mais inteligente que muito homem de governo junto (inclusive o próprio marido) e tinha um faro pra política fora de série.
Mas princesa regente não estava sozinha pra enfrentar a parada, não senhor! Nessa época, Dom Pedro ainda contava com o auxílio político e ideológico do político santista (nascido em Santos, esqueça o futebol) José Bonifácio de Andrada e Silva, um velhinho inteligente, muito sacado (e um bocado teimoso também, mas isso é outra história).
Como dissemos, a coisa tava ficando preta gil e Dona Leopoldina viu que não dava mais pra empurrar com a barriga. No dia dois de setembro, de manhã, ela se reuniu com o Bonifácio e com os outros ministros do Conselho de Estado, redigiu e assinou o Decreto da Independência, separando o Brasil de Portugal. Como em briga de governos, o que vale é papel escrito e assinado, esqueça o Grito de Dom Pedro: foi a letra da Leopoldina que desligou o Brasil de Portugal.
Dona Leopoldina e o Conselho: ela não gritou, mas separou Brasil e Portugal. |
Como mulher de nobre - e nobre da realeza - Leopoldina não era nem louca de fazer as coisas sem a aprovação do marido. Por isso, mandou uma carta para Dom Pedro (escritinha pra agradar em cheio o ego do marido - mulher esperta, gente!) junto com outra correspondência do Bonifácio, e mais um monte de papel pra inteirar o príncipe da zoeira que tava pra acontecer.
O mensageiro chegou até Dom Pedro no dia sete de setembro, o príncipe leu as cartas, e o resto, você já sabe, a história contou e Pedro Américo repaginou:
"Independência ou Morte!": não foi bem assim que aconteceu... |
Ou seja, 7 de Setembro é mais uma daquelas datas criadas e perpetuadas pra agradar ao ego de gente poderosa... e se tratando do Imperador Pedro I, haja ego!
- O nome da Princesa
Leopoldina chamava-se, na verdade Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburg-Lothringen, e não Maria Leopoldina Josefa Carolina, como muita gente acha e divulga por aí. Tanto é assim, que na época em que ela chegou por aqui, era chamada de Carolina. Foi só mais depois, quando ela já estava mais acostumada com a corte, e a corte com ela, que foi passou a ser chamada de Leopoldina, como era chamada pela família austríaca, ou Maria Leopoldina.
Aliás, um fato curioso merece ser mencionado: todas as irmãs de Leopoldina tinham o primeiro nome Maria, menos... a própria Leopoldina, que no Brasil acabaria adotando o pré-nome. Além do Maria, as irmãs tinham outros nomes em comum, como Francisca, Josefa ou Teresa. Para diferenciar tanta gente com nomes tão parecidos, o negócio era mesmo apelar para as diferenças, já que elas tinham muitos nomes pra escolher.
Então, as "Marias" ficavam: Maria Luísa (a irmã mais velha, futura esposa de Napoleão Bonaparte), Maria Clementina, "Maria" Leopoldina (olha ela aí), Maria Carolina e Maria Ana.
Leopoldina ainda teve outros irmãos: Ferdinando (o irmão mais velho; foi imperador da Áustria, mas era muito doente; abdicou em favor de um sobrinho), Francisco Carlos (pai de Francisco José, que reinou no lugar do tio Ferdinando), Joseph e Amália (esses últimos morreram ainda pequeninos).
Leopoldina e a Família Imperial Austríaca |
- A esposa e a amante: intrigas da oposição
Você deve estar acostumado a ver Leopoldina assim:
A atriz Érika Evantini, em "O Quinto dos Infernos": a Leopoldina obesa, baranga e corna que todo mundo conhece. |
Deve estar acostumado também a ver a Marquesa de Santos assim:
Maitê Proença: Marquesa de Santos com cara de Dona Beija, direto dos anos 80. |
Ou ainda assim, para os que não eram nascidos na época da Manchete:
Luana Piovani em "O Quinto dos Infernos": loira, alta, magra e curvilínea... a amante ideal. Porque será? |
Não é muito difícil perceber que quase ninguém faz idéia de quem foi a Imperatriz Leopoldina. Se alguém se lembrar, vai ser justamente da Leopoldina baleia cachalote, baranga obesa e corna, burramente inocente e condescendente imortalizada como motivo de piada para o Brasil e o mundo pela rede Globo em "O Quinto dos Infernos", na pele da atriz Érika Evantini.
Mas, se ninguém se lembra de Leopoldina, da Marquesa de Santos ninguém esquece! Ela é a paulista fogosa, bonita e sensual que conquistou o amor do inquieto imperador, galgou a escada da nobreza e quase virou imperatriz do Brasil. Se viesse no corpo da Luana Piovani, melhor ainda, não é?
Desculpa acabar com a festa aí, mas, todo mundo foi passado pra trás, e bonito!
Moda e beleza são duas coisas muito relativas e altamente transitórias. É claro que, se beleza não põe mesa, pelo menos dá prazer à refeição. Quero dizer que, mesmo que beleza não seja o mais importante, é lógico que é sempre um atrativo a mais numa pessoa. E o ideal de beleza mudou - e muito - com o passar do tempo.
Na época de Pedro, Leopoldina, Domitila e companhia, mulher bonita era mulher gorda. No Brasil de 1800 e bolinhas, a gente ainda acrescenta: gorda e cheia de panos, rendas, pérolas e colares - muitos colares, dando mais voltas que roda gigante ao redor do pescoço da madame - além dos, digamos, ousados penteados e ornamentos capilares.
Entra aí um porém importante, também: tirando as portuguesas que, por terem vindo da Europa até poderiam ser mais clarinhas, etcétera e tal, no Brasil o negócio era mais escurinho. A pele da mulherada (e da homarada, também) era de morena pra cima. Então, mulher branca e loira era artigo raríssimo! E ainda mais refinada, inteligente e bem educada... Lembrem-se que, no Brasil de então, só os filhos - homens - de gente rica sabiam ler, escrever e recebiam instrução. Se a mulher iria ficar o tempo todo dentro de casa, pra quê gastar tempo ensinando alguma coisa, né mesmo?
Assim, Dona Leopoldina não era uma figura comum. Nem pra Dom Pedro, o futuro marido, nem pra qualquer um que a viu chegar. Vinda de uma das cortes mais cultas da Europa, a princesa veio cair num reino atrasado, em que o simples fato de ela comer com talheres foi motivo de chacota. Além do mais, a princesa não era exatamente lá o que se diga "Minha Nossa, que gata, vou colar um poster no meu quarto!", porque, sabem... a família não tinha lá mesmo a beleza como um atributo muito forte não. Mas, segundo os documentos mais confiáveis, era uma moça perfeitamente normal e agradável como qualquer jovem austríaca em seus 19, 20 anos.
Só que Leopoldina não fugia da raia: como mulher de príncipe e, depois, imperador, tinha que cumprir a função mais importante de seu posto - povoar o castelo de muitos príncipes e princesinhas. Para Leopoldina, missão dada era missão cumprida: em nove anos de casada, foram nove gestações, seis filhos que vingaram e quatro que chegaram à idade adulta, entre eles, nosso velhão, Pedro II, o caçulinha da família.
Assim, Dona Leopoldina não era uma figura comum. Nem pra Dom Pedro, o futuro marido, nem pra qualquer um que a viu chegar. Vinda de uma das cortes mais cultas da Europa, a princesa veio cair num reino atrasado, em que o simples fato de ela comer com talheres foi motivo de chacota. Além do mais, a princesa não era exatamente lá o que se diga "Minha Nossa, que gata, vou colar um poster no meu quarto!", porque, sabem... a família não tinha lá mesmo a beleza como um atributo muito forte não. Mas, segundo os documentos mais confiáveis, era uma moça perfeitamente normal e agradável como qualquer jovem austríaca em seus 19, 20 anos.
Só que Leopoldina não fugia da raia: como mulher de príncipe e, depois, imperador, tinha que cumprir a função mais importante de seu posto - povoar o castelo de muitos príncipes e princesinhas. Para Leopoldina, missão dada era missão cumprida: em nove anos de casada, foram nove gestações, seis filhos que vingaram e quatro que chegaram à idade adulta, entre eles, nosso velhão, Pedro II, o caçulinha da família.
Mas, voltando à questão Que cara tinha a imperatriz?, nas épocas monárquicas, era comum que a realeza e os nobres tivessem pintores a sua disposição, para eternizá-los, cheios de luxo e poder, das formas mais inusitadas que suas cabecinhas com mania de grandeza pudessem conceber. Era comum também, que, como havia muito nobre feio de dar dó, os pintores (que não eram bobos coisa alguma) fizessem... digamos... uns melhoramentos na cara - e em outras partes - do nobre cliente. Então, muitos retratos de gente da realeza foram obivamente "tratados" - numa clara previsão do que viria a acontecer hoje, época em que até cachorro edita fotos no Photoshop.
Com a Leopoldina não foi diferente... e com a Domitila também não, tá?
A marquesa foi realmente muito sagaz e esperta, isso a gente não pode omitir: conseguiu ser a amante número um do imperador, arrumou logo uns cinco filhos com ele, chutou o marido, virou Viscondessa e depois Marquesa, arrumou título de nobreza pra família quase toda, ganhou palacete cheio de mobília europeia - muita coisa ela não fazia nem ideia de pra quê servia -, arrumou todas as intrigas que pôde, dentro e fora do Palácio Imperial e ainda conseguiu obrigar a Imperatriz a conviver com ela e com seus filhos quando foi elevada ao posto de Dama de Companhia de Dona Leopoldina.
Mas esqueçam as histórias de que ela influenciou na Independência e nos destinos políticos do país.
Dom Pedro nunca foi um príncipe politicamente e diplomaticamente preparado para governar. Porquê? Ninguém nunca foi muito eficiente em dar limites ao príncipe quando ele era criança, e ele cresceu achando que era quase Deus. Portanto, gente, Leopoldina e Bonifácio seguraram muito, mas muito mesmo, a barra do Dom Pedro.
Antes de Pedro sequer imaginar em separar Brasil de Portugal, Leopoldina já se inteirava da gravidade do negócio e via que não tinha muito sentido os dois territórios continuarem ligados.
Foi ela, principalmente, que convenceu Pedro a ficar para o bem do povo e felicidade geral da nação.
Foi ela quem escreveu pra Dom João VI, pedindo a compreensão e o apoio à Independência do Brasil.
Foi ela quem tentou por um pouco de ordem na bagunça que era o Palácio Imperial e, porque não, o próprio Brasil, incentivando a unidade entre as províncias e tentando dar aos herdeiros da coroa imperial o máximo de educação e cultura possíveis numa terra atrasada e sem perspectiva como o Brasil ainda era... e olhem, a mulher levou paulada, viu? Os portugueses achavam que ela estava se metendo em tudo, e armavam a maior contenda na corte, plantando tudo que era intriga contra ela, achando que ela estava era muito metida e orgulhosa, querendo "ensinar os portugueses a educar seus próprios filhos". Engraçado, né? Os portugueses educaram Dom Pedro sozinhos e vocês viram no que deu, né?
Uma mãe não teve direito de educar seus filhos segundo seus costumes, de dar-lhes o melhor que uma educação riquíssima e primorosa como a dela poderia oferecer; não pode contar com uma única amiga pessoal, a inglesa Lady Maria Graham, que foi logo vítima da língua ferina dos cortesãos e expulsa do Palácio (e hoje, vítima da malediscência de alguns em insinuar "ligações amorosas" entre as duas); não foi respeitada pelo marido a quem amava e devotava a vida e, também pela corte que a cercava, parte de um povo que ela adotou e por quem decidiu lutar, custasse o que custasse - no caso, custou sua juventude (ela morreu pouco antes de fazer 30 anos), sua saúde (ela desenvolveu depressão, ganhou muito peso, perdeu três filhos em abortos espontâneos, e contraiu outras doenças possivelmente causadas pelo estado psicológico) e o casamento: Leopoldina nunca teve a felicidade que sonhou, ao lado de seu amado Pedro.
A Imperatriz Leopoldina e os filhos. |
E aí, gostou desse texto?
Comenta aí!
Um abraço, e até a próxima!
Estava lendo o livro 1822, e desfazendo alguns terríveis enganos que nos ensinam dos longos anos de ensino fundamental na escola. Infelizmente, ainda sofremos com os erros cometidos pelos nossos monarcas, desvalorizamos àqueles que trabalham e realizam o certo, e valorizamos em demasia os que sabem tirar vantagens. O mais vergonhoso, é ver que a própria mídia transmite de forma tão burra quanto aquela minissérie e mau gosto, nossa história. Continuamos na realidade, depois de quase dois séculos, e de uma educação "para todos", em nossa maioria sendo o mesmo país fundado às pressas, e com uma grande maioria ignorante. Pena!
ResponderExcluirLeopoldina foi a maior conselheira de D.Pedro, tanto que após sua morte prematura ele sentiu a falta da mulher que lhe sempre foi fiel e amiga, mais como nada é perfeito ele preferiu deixar uma uniao sólida para viver um amor passageiro, já que jamais ele poderia colocar Domitila no lugar de Leopoldina, a nossa primeira imperatriz foi a grande responsavél para que hj podemos comemorar os 189 anos da independencia, com sua educacao aprimorada na area da política, ela pode enxergar o que D.Pedro só conseguiu a muito custo enxergar quando nao tinha mais por onde escapar. Inteligente, bonita (na minha opiniao),ela só poderia fazer o melhor como fez pelo o Brasil.
ResponderExcluirFico muito grato pelos comentários.
ResponderExcluirRealmente, é muito triste vermos que o Brasil, como o próprio Pedro só souberam o valor de sua Imperatriz depois de a perderem e, nós, hoje, ainda assim, não a conhecemos realmente.
É por darmos tão pouco valor a pessoas e a coisas realmente importantes, que temos este país cada vez menos independente.
Minha monografia é justamente sobre a participação da Leopoldina na Independência do Brasil e me diverti mt com seu post! Sobre o shape das mulheres de D. Pedro, só posso dizer que Leopoldina foi influenciada a engordar durante sua viagem de navio ao Brasil, pois, segundo lhe disseram, no Brasil se apreciavam as mulheres mais cheias. A própria Domitila não era diferente, segundo relatos da época "era impossível distinguir quando ela estava grávida ou não", então imaginem o tamanho dela, rs!
ResponderExcluirMARAVILHOSO POST!!!
ResponderExcluirSALVE NOSSA POLDL :)
Olá, Manoela!
ExcluirQue surpresa boa você ter descoberto este post tão antigo do meu blog. Fico honrado com o seu comentário e feliz por mais este contato, além do Instagram!
Agradeço muito!
Grande abraço!
Nossa amei saber mais sobre nossa amada princesa Lêo.
ResponderExcluirEi, Nayara!
ExcluirFico feliz em ter te trazido um bom conteúdo!
Obrigado por comentar!
Abração!