terça-feira, 30 de setembro de 2014

Goodbye, Orkut!

Alô, alô, barraqueiros!

Tivemos contratempos na última sexta, dia em que normalmente saem os posts do Barraco, então, ficamos sem atualizações... Foi mal, negada!

Apesar disso, resolvi fazer um post a jato para mencionar um acontecimento épico, histórico, de importância mundial: hoje, dia 30 de setembro, a rede social que uniu o mundo e revelou nosso potencial para ser o povo mais bizarro do planeta diz adeus a este mundo - o Orkut morreu, galera!

Para sempre em nossos corações!
Conheci o Orkut por volta de 2005, como falei no início da série de posts sobre A Feiticeira, quando o site ainda tinha aquela aparência meio azul, meio roxa, antes do Furacão Google passar o rodo, arrebanhar o roxinho pra sua prateleira e começar uma série de mudanças de visuais e funções que, se bem me lembro, não agradaram todo mundo.

A tela do bug - matando os usuários de raiva desde 2004

A página de login: o início do domínio Google

O topo do perfil básico que muita gente viu por anos...

BR's sendo BR's: nossa criatividade épica pra comunidades...
Vou lembrar de muita coisa de lá com saudade... as comunidades lotadas, com gente escrevendo freneticamente 24 horas, gente disputando topo de depoimentos, os scraps que viravam conversas intermináveis, dar aquela espiada básica no álbum do outro pra ver o que ele estava fazendo (porque quem tinha Orkut botava tudo na internet, mesmo...)... Ih, lembra quando os nomes das comunidades começavam com bonequinhos humanos formando a letra inicial? Bizaaaarro! Hahahahahaha

Conheci muita gente boa, fiz novas amizades e mantive contatos com velhos conhecidos... Aliás, foi com o Orkut que me surgiu a noção da vida como uma "prateleira": quem pedia pra adicionar (Só com scrap, faz o favor! Se não escrever nada, rala!) e não falava nada, ficava só pegando poeira, eu excluía sem dó. Afinal... ocupar espaço com tralha? Pra quê, né nom?

Demorei um bocado pra migrar pro Facebook, mas, na época, o Orkut já tinha baixado um pouco a bola... Por fim, acabei pulando pro azulzinho e deixei o velhão de lado...

Agora, pensando no fim, muita coisa me vem à lembrança. Valeu a pena, enquanto durou!

Adiós, Orkut!
E vocês? Gostavam do Orkut? Vão sentir falta? O que mais curtiam?
Comentem aí!

Abração, e até!

PS.: Se tudo der certo, esta sexta, teremos post normalmente! Espero vocês!!!

sábado, 20 de setembro de 2014

50 anos de magia - parte 3 (final)

Alô, alô, barraqueiros!

Se vocês tiveram paciência de ler tudo nos acompanharam até aqui, espero que estejam gostando de conhecer um pouquinho sobre esse mágico programa que, mesmo após cinco décadas, continua encantando fãs de todas as idades.

Preparem-se, pois é hora do episódio final da homenagem aos 50 anos de...


A Feiticeira
Mas, antes, vamos falar de coisa boa? queria compartilhar umas lembranças com vocês.
O brasileiro que entrou no universo das redes sociais no longínquo início dos anos 2000 (ô, como parece longe, hein?), como eu, teve, durante muito tempo, o finado Orkut como uma "segunda casa". No Orkut, muita gente fez amigos, teve gente namorando, casando e tendo filhos, outros redescobriram parentes perdidos mundo afora. Era o tempo da galera disputando o topo da lista de depoimento dos colegas, do só add com scrap, dos perfis lotados I, II e III e delas: as comunidades absurdamente movimentadas em que, se você piscasse, já havia perdido 999 postagens.

E o que isso tem a ver com a série?

Calma, que eu já explico!

Em minha casa, fomos ter computador com internet em 2003, mas, no ano 2000, meu pai fez uma aquisição que "abriu o mundo" para a família: uma antena parabólica (pode rir, hahaha). Afinal, pra quem só podia escolher entre SBT, Globo, Band e Record, ter 30 canais (sim! 30!) foi um avanço e tanto! Com a parabólica, a gente conheceu a ErreideTV RedeTV!, mas o que mais mexeu comigo foi uma sessão que começava às 19h e apresentava duas séries com a cor meio diferente, uma aparência meio velha, mas que me prenderam na hora: Jeannie é um Gênio e... A Feiticeira.

Gostava das duas, mas A Feiticeira ganhou meu coração. Assistia sempre que podia, tentando driblar meu pai, impaciente para mudar de canal para assistir o noticiário. Pouco depois, veio o computador, a internet discada (lembra do sufoco?), posteriormente substituída por sinal a rádio. Comecei a conhecer o mundo virtual e, logo, o Orkut chegou à minha vida. Foi nesse ambiente que eu descobri uma comunidade que, de certa forma, mudou várias coisas em minha vida de fã de seriados: a "Série A Feiticeira".

Logo comecei a conversar com o dono, um rapaz da minha idade, e nos tornamos bons amigos, de conversar horas a respeito da série, comentando episódios, imaginando teorias e falando, principalmente, sobre a dublagem da série.

Bewitched foi lançada em 1964, nos Estados Unidos, como já contei pra vocês. Curiosamente, o delay gigantesco que temos aqui para receber as coisas de fora não aconteceu com a série. No ano seguinte, o programa chegou para ser dublado em terras brasileiras. Quem assinou o trabalho foi a clássica e tradicional Versão Brasileira AIC São Paulo, para ser exibida pela extinta TV Paulista (posterior emissora paulista da TV Globo).

Nessa época, a dublagem brasileira começava a se consolidar. Apesar da precária tecnologia, se comparada à disponível no exterior, o time de atores da voz dava um verdadeiro banho no que a gente vê hoje em muitas produções. A "versão brasileira", introduzida no Brasil na década de 1930, mas funcionando, pra valer, a partir dos anos 40/50, contou, desde seu início, com atores e atrizes do elenco radiofônico, das radionovelas e programas humorísticos, o que explica a gente ouvir vozes empostadas e pronúncias mais carregadas (com erres vibrantes) em dublagens desse primeiro período. Além de uma experiência pioneira para muitos deles, a dublagem se tornou uma fonte extra (ou, por vezes, principal). Muitos atores passaram a se dedicar majoritariamente à nova atividade.

A AIC (Arte Industrial Cinematográfica) São Paulo foi a primeira gigante no mundo da dublagem. Antes do famoso Versão brasileira: Herbert Richers pra tudo que é lado, era a narração da AIC que era ouvida nos créditos de filmes, desenhos e seriados, como... A Feiticeira!

Vamos às curiosidades da nossa versão brasileira? Vem comiiiiiiiiiigo!

1) Com oito temporadas, Bewitched foi, provavelmente, a série mais longa dublada ininterruptamente pela AIC São Paulo, em seus pouco mais de dez anos de existência.

2) Apesar de o nome da série significar, literalmente, "Enfeitiçado", dirigindo o foco para Darrin, o mortal da história, é fácil notar que Samantha reina muito mais do que o marido (sorry, Dumbo!) no pedaço. Logo, numa história em que a protagonista é uma bruxa, o título escolhido para o show no Brasil foi bem óbvio. Certo? Errado. Quem tem acesso aos DVDs vai perceber que nos seis primeiros episódios, mais ou menos, o narrador da abertura anuncia As Feiticeiras, no plural. Isso se justifica, ao meu ver, pela presença constante de Endora nos primeiros momentos. Vai que o tradutor pensou que o foco ficaria nas duas, né nom? Só depois, a série passou a ser anunciada como a conhecemos A Feiticeira.

 

De "Enfeitiçado" para "A Feiticeira"

PS.1: Pelo mundo a série teve nomes ainda mais diversos, desde os semelhantes Hechizada e Embrujada, nos países de língua espanhola, a Ma Sorcière Bien-Aimée ("Minha Feiticeira Bem Amada", na França), Vita da Strega ("Vida da Bruxa"), na versão italiana, e Verliebt in Eine Hexe (Apaixonado por uma Bruxa), em alemão. Em alguns países, a série é exibida com áudio original e legendas na língua local.



Capa do box da Sétima Temporada em algumas versões.

PS.2: Nossos patrícios portugueses receberam a série com a dublagem brasileira! Mas como gostam de complicar tudo, resolveram trocar o simples A Feiticeira por Casei com uma feiticeira, título usado até nos DVDs lançados por lá.

DVD português... com dublagem brasileira, ora pois!

3)
 Mais uma da versão brasileira: nos outros textos, só chamei o marido de Samantha por seu nome original - Darrin -, enquanto qualquer pessoa que já tenha ouvido uma coisinha sobre o programa o conheça por James. Diabeisso? Um nome tem nada a ver com o outro! Realmente, os nomes não são equivalentes, nem se parecem, se a gente ler ou falar assim, conscientemente.

Em uma entrevista com Rita Cleós, uma das vozes de Samantha, apresentada no blog Universo AIC (do meu amigo da época do Orkut Marco Antônio, um professor e pesquisador fanático pela AIC, que me ensinou muita coisa a respeito), a dubladora conta que a ideia de substituir o nome do personagem foi do primeiro tradutor da série, Hélio Porto (também dublador e diretor de dublagem). O tradutor alegou que o nome era mais comum no Brasil e a sincronia labial ficaria certinha. Mesmo o nome Darrin Stephens aparecendo escrito em alguns momentos da série, os brasileiros aprenderam a chamá-lo de James, e fim da história.

4) Eu disse na curiosidade anterior, que Rita Cleós foi uma das vozes de Samantha, e é isso mesmo. Apesar de muita gente não se dar conta, a voz da bruxinha não foi sempre a mesma. A primeira dubladora selecionada para fazer Samantha falar português foi Nícia Soares, que já havia dublado a Betty Rubble, em Os Flintstones, por exemplo.

Nícia Soares, a primeira voz de Samantha
Dona de uma voz mais doce - e um pouco mais radiofônica -, Nícia dublou Sam na 1ª temporada e começou a dublar a seguinte, mas decidiu se afastar, pois preferia fazer participações menores, que lhe segurassem menos no estúdio. Como os episódios não vieram em sequência, quem possui os DVDs pode estranhar a mudança de vozes durante a temporada 2.

Rita Cleós, a dubladora definitiva de Samantha e a voz de Serena

É quando entra Rita Cleós, atriz de teatro, que havia participado de várias iniciativas pioneiras no início da TV no Brasil e, agora, mostrava seu talento atrás do microfone. A dubladora (que também foi tradutora e chegou a dirigir dublagens) ficou até o final da série e, no meio do caminho, ganhou mais uma personagem: Serena, a prima "fora do normal" de Samantha.
5) Aliás, quando o assunto é troca de vozes, A Feiticeira foi uma série campeã, o que não desqualifica ou diminui o primor do trabalho, vão por mim. Mesmo que algumas coisas pareçam estranhas, como as gírias da época, talvez a qualidade do som, ou mesmo as vozes diferentes, vão por mim, 50% do sucesso da série e de sua permanência na memória afetiva e auditiva de milhares de brasileiros se deve ao trabalho da equipe AIC.

Essas trocas aconteceram basicamente pelo tamanho da série. Com oito temporadas (anos), A Feiticeira levou muito tempo para ser dublada. Os atores nem sempre estavam inteiramente disponíveis para serem escalados - alguns momentaneamente, outros em definitivo -, o que levou os diretores de dublagem a fazer substituições.

Com base nos trabalhos de pesquisa do Thiago Moraes (dono da extinta comunidade "Série A Feiticeira", no Orkut) e do Marco Antônio (do blog Universo AIC), eu montei a tabelinha abaixo, com os dubladores dos personagens principais:


Separei as temporadas e personagens por cores. Nos casos em que a personagem não aparece, o período está em amarelo, com a legenda correspondente. Os nomes com fundo rosa são dos atores que ficaram durante muito tempo com o personagem, sem interrupções. Alguns dubladores citados, só deram voz ao personagem em uma aparição, em determinada temporada. Ainda assim procurei citá-los ao máximo, para trazer a informação bem completinha para vocês!

5) Como a maioria das séries, a abertura de A Feiticeira no Brasil não foi modificada, contando apenas com a narração do título em Português (mais comum nos primeiros dois anos) e dos episódios (em períodos alternados). Nos DVD's, a partir da 6ª temporada, um narrador mais recente anuncia o nome da série.

6) O programa foi exibido em praticamente todas as TVs abertas, entre os anos 60 e 80: TV Paulista (onde estreou), TV Excelsior (extinta), TV Record, TV Tupi (extinta), TV Globo e TV Bandeirantes. Não dou certeza, mas algumas pessoas afirma ter visto a série na TV Manchete (também extinta). Só não passou no SBT (pô, Sílvio! Vacilou...). A última TV aberta a trazer a série foi a RedeTV!, que deixou de exibi-la em abril de 2007. Depois, uma emissora pequena, chamada Rede 21 colocou A Feiticeira no ar, mas não transmitia para todo o Brasil. Os fãs, então, tiveram duas opções: comprar os DVDs ou torcer pra que alguém disponibilizasse para download ou postasse episódios no Youtube.

7) Os produtos estrangeiros vinham para o Brasil (para serem dublados e/ou exibidos) em rolos de filme. No processo de dublagem nos anos 1960, a gravação das vozes e/ou efeitos sonoros era feita em uma fita magnética acoplada ao filme. Muito frágil, essa parte de áudio sofre com a ação do tempo e do manuseio constante tanto ou mais do que a parte das imagens. O som vai se perdendo, até não ser possível escutar coisa alguma.

A Feiticeira rodou na mão de muita gente e, com certeza, não ia escapar de algumas avacalhações. Por sorte, o estrago foi pouco. Enquanto muitas dublagens de séries e filmes hoje são completamente perdidas, dos 254 episódios de A Feiticeira, apenas quatro não possuem mais seu áudio em português, pelo menos oficialmente e disponível para as emissoras. Nos DVDs, esses episódios foram lançados com áudio em inglês e legendas em Português.

7) Você certamente conhece algumas das vozes que dublaram os personagens dessa série tão querida. Pra te ajudar, confira os rostos e alguns papeis famosos desses grandes atores.

Primeira voz de Dick Sargent (6ª temporada) na série,
Osmiro Campos é também conhecido como...
Mestre Linguiça, digo, digo, Professor Girafales e demais personagens
de Ruben Aguirre nas séries de Chespirito

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Helena Samara (já falecida), a principal voz de Endora, também responde por...


Dona Clotilde, a bruxa, digo, a senhorita do 71, e demais personagens
de Angelines Fernandez na dublagem clássica de Chaves, Chapolin etc. ou...

Wilma Flintstone, no desenho clássico.
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Sílvio Navas, que dublou Maurice, também é conhecido como...
Muuuuuuun-Haaaaaa: o de vida eterna!
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O genial Olney Cazarré, que mais tempo dublou James
(nos dois atores), podia ser visto também como...
... o corintiano João Bacurinho, da Escolinha do Professor Raimundo.
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O enfezado "Fernando", do Canal Parafernalha, atende pelo nome de Sílvio Matos,
mas, na série, encarnou o piadista Tio Arthur
Como eles, os dubladores da série deram voz a diversos personagens que encantaram - e ainda encantam - os fãs de televisão e cinema no Brasil. Foi por suas vozes que nossos personagens favoritos puderam falar português e ficarem mais próximos de nós!

Aos dubladores - vivos e falecidos - da AIC São Paulo, que contribuíram para abrilhantar a trajetória da série no Brasil, muito obrigado!

Minha gratidão também aos amigos da época do Orkut Marco Antônio e Thiago Moraes pelo trabalho fantástico no resgate de informações sobre a série!

Créditos de foto: Google e Bewitched.net.
Referências: Harpies Bizarre (site especializado em Bewitched)Wikipedia (em inglês)Blog do Thiago Moraes (fã e pesquisador da série)Universo AIC (do estudioso e amante da AIC, Marco Antônio) e InfanTV (Artigo sobre a série e elenco).


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That's all, folks!
Chegamos ao fim desta série de posts em homenagem aos 50 anos de A Feiticeira, que, com o poder de um narizinho, conquistou os Estados Unidos, o Brasil e o mundo!
Espero que vocês tenham gostado e tido paciência com os textos quilométricos, mas foi por uma boa causa e continuem conosco nos próximos posts!

Abração, e até!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

50 anos de magia - parte 2

Alô, alô, barraqueiros!

Uma das séries mais amadas da televisão norte-americana e em todo o mundo fez aniversário ontem (17/09): Bewitched completou 50 anos e o Barraco do Leon continua a série de posts em homenagem a essa mágica série! 

Vem comiiiiiiigo!


Estamos apresentando: A Feiticeira

Bewitched foi transmitida pela rede estadunidense ABC de 1964 a 1972, num total de oito temporadas e 254 episódios. Durante oito anos, os norte-americanos foram convidados diários na casa 1164 de Morning Glory Circle para acompanhar o cotidiano peculiar (né Sra. Kravitz?) dos Stephens: o normal e comum ser humano Darrin, sua encantadora (sentiu o trocadilho?) esposa Samantha e as crianças Tabitha (que chegou na segunda temporada) e Adam (a partir da sexta).

Na série, mortais e feiticeiros se trombavam o tempo todo, enlouquecendo Darrin e deixando Gladys Kravitz, Phyllis Stephens, Larry e Louise Tate com a impressão de que havia algo de muito esquisito acontecendo naquela casa.

Se um programa de curta duração pode ser cheio de histórias, em Bewitched, muita coisa aconteceu. O show revelou talentos, influenciou a cultura e trouxe inovações no aspecto de produção de séries para televisão: afinal, antes da série, ninguém levitava, desaparecia ou reparava coisas com um virar de dedos (ou uma mexidinha de nariz), né mesmo?

Confira, então, algumas curiosidades sobre a série:

1) A loira garotinha dos Stephens, Tabitha, só entrou na história por causa da gravidez de Elizabeth Montgomery. Como eu contei no post anterior, antes de começarem as filmagens, Liz contou à equipe que estava esperando um bebê. Todos trabalharam aceleradamente, para aproveitar o tempo em que o corpo da atriz não tivesse sofrido as mudanças características de seu estado. O disfarce deu certo até o início da segunda temporada, quando, no episódio Alias Darrin Stephens (na versão brasileira "A Palavra Mágica"), Sam contou a Darrin que a família iria crescer logo, logo. Foi Liz Montgomery quem criou e modificou o nome da personagem, de Tabatha, como preferido pelos produtores, para Tabitha, pronúncia que lhe agradava mais.

Samantha teve uma filha, mas o bebê de Elizabeth Montgomery foi um garoto:
Robert (no colo da mãe, nessa foto), seu segundo filho com William Asher 
2) Ainda sobre Tabitha: como era comum (digo "era", porque não sei se a prática permanece assim), ao se trabalhar com crianças pequenas em estúdios de filmagens, dava-se preferência a gêmeos. Apesar de estrear interpretada pela bebezinha Cinthia Black (em 1966), três pares de irmãs deram vida à nova integrante da família Stephens: primeiro Heidi e Laura Gentry, em 66, depois Tamar e Julie Young, no mesmo ano, e, por fim, Diane e Erin Murphy (1966-1972), as carinhas da Tabitha, que todo mundo conhece.

Os três pares de gêmeas que interpretaram a primogênita dos Stephens:
Heidi e Laura, à frente, Julie e Tamar, à direita, e as irmãs Murphy, ao fundo
(crédito de foto: www.bewitched.net)
3) Tabitha parte 3: apesar de começarem dividindo o papel da bruxinha, foi Erin que ficou com o papel definitivamente. Explico: as irmãs eram gêmeas fraternas (ou bivitelinas), ou seja, não idênticas. Quando bem pequenas, as meninas se pareciam muito e, por isso, foi possível revezá-las até meados de 1968, quando as diferenças entre as duas ficaram bem aparentes. Como a imagem de Erin se parecia com a de Elizabeth Montgomery, a pequena atriz ficou com o papel até o fim da série, cabendo à irmã pequenas participações em mais três ou quatro episódios dali por diante.

Erin, à esquerda, e a irmã Diane:
na guerra das Tabithas, ganhou a mais parecida com a "mamãe"
Um detalhe: Diane começou a se diferenciar bem cedo de Erin. Quando foi ao ar o episódio 32 da 3ª temporada Nobody but a frog know how to live (no Brasil "Era uma vez um sapo"), Diane interpretou Tabitha. Conta-se que choveram ligações para a ABC reclamando por terem "trocado" a garotinha. Poor Diane, rsrsrs.


Diane, como Tabitha, num dos raros momentos em que a gente sabe
com certeza quem é quem. Se liga no formato da boquinha!
4) Assim como no caso de Tabitha, Adam também veio ao mundo para "cobrir" a última gravidez de Elizabeth Montgomey no casamento com William Asher. Depois de Bill Jr. (nascido antes da série) e Robert Asher, nascia Rebecca. O caçula dos Stephens também foi interpretado por gêmeos: de 1969 a 1970 por dois bebês não identificados e, de 70 a 72 pelos irmãos David e Greg Lawrence, que hoje assinam Mendell. E, ao contrário do que muita gente pensa e divulga, Adam também é feiticeiro! A revelação foi feita no episódio 14 da temporada final Adam, warlock or washout? (no Brasil "Mais um mago na família").

Nessa foto de elenco, tirada na época da sétima temporada,
os gêmeos Lawrence aparecem sentadinhos aos pés da "vovó Endora"
5) A série sofreu várias baixas ao longo dos anos, e algumas delas pesaram pra caramba no desempenho futuro do show. Vamos aos casos:

Caso Gladys Kravitz
Quem assiste a segunda temporada de A Feiticeira, percebe que, com o passar dos episódios, Gladys Kravitz vai ficando cada vez mais magra, a exceção do último, Prodigy (Prodígio), filmado em junho de 1965 e exibido quase um ano depois, em homenagem à atriz, recém-falecida. Alice Pearce, por quem Liz tinha certo apreço, havia descoberto um câncer no ovário antes da série, mas manteve a enfermidade em segredo. Apesar da aparência curiosa, de mulher pouco bonita, Alice foi casada duas vezes e teve no segundo marido, Paul Davis, um companheiro devotado e amável em seus últimos dias. Era ele quem presenciava a deterioração de seu estado de saúde e a acompanhou todos os dias nos estúdios. 

Alice Pearce e George Tobias a.k.a. Sra. e Sr. Kravitz
Para evitar um hiato muito grande, a produção resolveu a ausência de Gladys com a entrada de Harriet Kravitz, vivida por Mary Grace Canfield, uma irmã de Abner, que cuidaria da casa enquanto os Kravitz estavam fora, em visita à mãe de Gladys. Nos bastidores, a equipe lutava para encontrar uma substituta e, sem se ater a semelhanças físicas, contrataram Sandra Gould, outra atriz de comédia, que, apesar de um ano mais velha que Alice, pareceu muito mais nova na dinâmica com George Tobias, seu marido na série. Os Kravitz permaneceram na série até 1971, e não foram mostrados na temporada final.

Sandra Gould, como a nova Gladys.
Abner não parece muito convencido da troca, rsrsrs
Caso Darrin Stephens
História famosa, que a maioria dos fãs de Bewitched já deve saber, ao menos um pouquinho. Dick York já possuía uma carreira em cinema e TV quando foi chamado para o papel de Darrin, após a indisponibilidade de Dick Sargent. O que a equipe não esperava é que, com ele, viesse um dos maiores problemas da história da série. Anos antes, nas gravações do filme They Came to Cordura (no Brasil "Heróis de Barro", 1959), York sofreu um acidente com um pequeno vagão (como aqueles de mina, sabe?) e teve graves lesões musculares nas costas, das quais nunca se recuperaria.

William Asher, em um documentário para o canal E!, declarou que, de início, percebeu que York falava meio diferente e nunca estava "100% no local", mas, como era muito dedicado, se errava algo, repetia o quanto fosse necessário e fazia sempre bem feito. Todos achavam que daria para levar, mas, na quinta temporada, a bomba estourou. Devido à lesão, Dick York passou a tomar remédios para dor e calmantes em grandes quantidades, que lhe causaram dependência e, a partir de certo ponto, já estavam prejudicando seu desempenho. O ator começou a faltar e, nas palavras de Asher "cada segunda-feira era uma incerteza, pois ninguém sabia se poderiam contar com ele".

Se vocês prestarem atenção, a maior parte dos episódios da temporada 5 se passa sem Darrin, que está sempre "em viagem de trabalho". Os roteiristas tinham que reescrever os scripts às pressas, modificando trechos e alterando falas ou, até mesmo, criar novas histórias rapidamente para suprir as ausências cada vez mais frequentes do ator. Aí, a solução era apelar para as histórias do mundo bruxo, que, curiosamente, não caíram tanto no gosto do público. Quando, na gravação do episódio 27 Daddy Does His Thing (Teimoso como uma mula), Dick York sofreu um colapso e foi levado em coma para o hospital, todos sabiam que aquele era o fim da linha.

Os dois Darrins na vida de Samantha: Dick York (E) e Dick Sargent (D)

Foi, provavelmente, a perda mais difícil de se lidar. O contrato da série estava renovado e era preciso mantê-la no ar, mas, como continuar com o show, sem o marido mortal? Um feitiço que "transformaria" a aparência de Darrin? Um novo amor para Samantha? Por fim, decidiu-se que a melhor explicação era não dar explicações. A ABC exibiu uma maratona com todos os episódios "sem Darrin" da quinta temporada e, em 18 de setembro de 1969, Dick Sargent entrava pela porta da casa dos Stephens como seu novo dono. Novo ator, novo jeito de interpretar - mais discreto, comedido, sem tantos movimentos de corpo e caretas - e, porque não?, nova dinâmica de casal. O fato é que a relação entre Sam e Darrin nunca mais foi a mesma; nem a da série com seu público.

Casos Tia Clara, Louise Tate e Frank Stephens
Bruxa velhinha, avoada e com os poderes falhando que era o xodó de muita gente, tia Clara, interpretada impecavelmente pela veterana Marion Lorne, esteve na série até a quarta temporada, quando faleceu, vítima de um ataque cardíaco, em 9 de maio de 1968. A atriz não foi substituída, e a personagem desapareceu da série. Somente na sexta temporada, surgiu uma quase substituta: a empregada feiticeira Esmeralda, vivida pela atriz Alice Ghostley até o fim da série.

Marion Lorne, como Tia Clara: mesmo com os poderes fora de forma,
não havia bruxa como ela!

Anos depois, Alice Ghostley encarnaria Esmeralda,
a babá-empregada com poderes falhando: uma tentativa de trazer de volta
o "espírito de Tia Clara"

Louise Tate
, a esposa de Larry, que se tornou (questionavelmente) a melhor amiga de Samantha, foi introduzida, discretamente, no episódio 4, It Shouldn't Happen to a Dog (Encantos e Encantamentos), e, depois passou a ser personagem regular, vivida por Irene Vernon. Desiludida com o pouco espaço dado à personagem (em pouco mais de 70 episódios, Louise só apareceu em 13), a atriz deixou a série, em busca de oportunidades maiores, que acabaram, posteriormente, não se concretizando, e levaram-na a deixar o show business. Para o papel, foi chamada a já razoavelmente conhecida atriz de TV Kasey Rogers, que, loira, escondeu seu cabelo natural sob uma peruca negra até a oitava temporada, quando, em conversa com William Asher, ficou livre para deixar de usá-la. Falecida recentemente, Rogers esteve presente em diversos eventos relacionados à série e, como as primeiras temporadas, por serem produzidas em P&B, logo deixaram de ser exibidas em várias parte do mundo, acabou sendo o único rosto conhecido de Louise Tate para a maioria dos fãs da série.

Sai Irene Vernon, a Louise Tate 1...
... entra Kasey Rogers, a Louise Tate 2

No episódio 14 da primeira temporada, Samantha (e todos os telespectadores) conheceu os pais de Darrin: Frank e Phyllis Stephens. Numa interação leve e muito divertida, Robert F. Simon interpretou o paizão aposentado e tranquilão, enquanto a grande Mabel Albertson deu vida à sogra ciumenta e possessiva, que tinha sempre uma conveniente dor de cabeça. Só que os personagens apareceram pouco: Frank - 13 vezes, Phyllis - 19, em toda a série. Foi difícil encontrar Robert Simon disponível todas as vezes e, além disso, ele era contratado por aparição. Daí, em mais um daqueles casos em que o critério Semelhança? Pra quê? comeu solto, o ator Roy Roberts interpretou o Sr. Stephens no meio da série. Curiosamente, na última aparição do personagem, na temporada 8, o primeiro Frank foi quem apareceu na telinha.

Frank Stephens foi vivido primeiro por Robert F. Simon...
... e depois por Roy Roberts, que viria a ser substituído
por seu antecessor na aparição final do casal Stephens
Outros personagens também foram interpretados por vários atores, como as feiticeira tias Hagatha e Enchantra e a secretária de Darrin, Betty, campeã de "mudança de corpo".

6) O pai de Samantha, Maurice, quase foi vivido pelo grande ator Roberth Montgomery, pai de Elizabeth. Os dois tinham uma relação complicada e Sr. Montgomery recusou o convite. Para assumir o posto, foi escalado o ator de tradição shakespeariana Maurice Evans, que apareceu em apenas 12 episódios em toda a série, mas marcou suas aparições pelos desentendimentos com Endora e seu desprezo pelos mortais, que acabava sempre caindo sobre o Douglas Dino Dennis Como-é-mesmo-o-nome-dele?

Maurice Evans, cujo personagem veio a se chamar... Maurice!

7) O caso Serena, a prima sem-noção-do-perigo de Samantha. Quem já está acostumado saca logo a armação - e eu suspeito que até os desavisados percebem -, mas, não custa revelar: era Elizabeth Montgomery quem interpretava a personagem, com o auxílio de uma peruca (ou várias) preta e um pseudônimo bem matreiro incluído nos créditos a partir da 5ª temporada: Pandora Spocks. Apesar de uma primeira aparição relâmpago no segundo ano da série, foi só season five que Serena tomou forma e virou essa entidade delicinha que nós conhecemos.

Sam e Serena: percebem alguma semelhança?


A personagem foi um grito de liberdade para a estrela do show, cansada de fazer a boazinha e nem tanto submissa feiticeira virada em dona de casa. É sabido que Liz se divertia muito interpretando Serena e, provavelmente, o segundo papel foi umas das investidas que a fizeram levar a série adiante por mais tempo.

Colocar a prima na tela deu trabalho, ainda mais quando Sam e Serena tinham que estar juntas. Numa época em que os recursos ainda não eram tantos, três métodos foram realizados, e uma pessoa foi essencial para que a coisa desse certo: Melody McCord, a dublê de corpo (ou stand in) de Liz. As cenas poderiam ser gravadas com essas técnicas: Samantha vista de frente, sob as costas de Serena (com Melody caracterizada, mas a voz de Montgomery encaixada, se necessário); cortes separados de cada personagem vista de frente, encadeados em sequência, como em uma conversa; e, por fim, o bom e velho cromakey, pra quando o bicho pegava e não dava mais pra ficar só fazendo corte daqui e dali, e as duas precisavam aparecer lado a lado. Esse recurso era mais caro e foi usado poucas vezes.

8) A abertura da série mudou ao longo das temporadas. Quem tem os DVDs ou conhece os episódios em suas transmissões recentes, está acostumado à abertura colorida, creditando Elizabeth Montgomery, Dick York e Agnes Moorehead, ao final. Esta, porém, foi a abertura introduzida no terceiro ano do show. Nos primeiros anos, em P&B, a cozinha, do início da animação, era mais bem delineada e, frequentemente, havia animações que introduziam a abertura, indicando os patrocinadores daquele ano. Mas as maiores transformações vieram a partir da temporada 6: de cara, a troca do bonequinho de Dick York para o de Dick Sargent. O nome de Elizabeth Montgomery passa a abrir a vinheta, antes do título da série, e, fechando a animação, a fumacinha da panela, que antes abrigava o nome de Agnes Moorehead, apenas, passou a receber também o de David White (Larry Tate), por insistência de Liz, segundo se conta. As melodias de abertura, dos créditos de direção e do encerramento também mudaram, ficando mais aceleradas, no correr das temporadas. Até os efeitos sonoros - como o da mexidinha do nariz - não foram os mesmos do começo ao fim do seriado.

9) Outra história famosa, mas que a gente vai recordar: o narizinho poderoso de Samantha. Reza a lenda que, depois dos pontos principais já estarem definidos, William Asher se pôs a pensar na maneira pela qual Samantha manifestaria seu poder. Precisaria ser algo característico, especial, que se destacasse. Então, o diretor se lembrou uma mania que a esposa tinha quando ficava ansiosa: numa espécie de muxoxo, acabava mexendo o nariz. Era o que ele precisava! Asher pediu a Liz que fizesse o gesto e ela dizia que não fazia ideia do que ele estava falando. Os dois ficaram nesse "disse-não-disse", nesse "faz-não-faz" até que a atriz, de saco cheio, fez o bendito movimento! Bill Asher deve ter comemorado como se tivesse conseguido o primeiro prêmio na loteria. Acontece que Elizabeth não mexia o nariz: ela movia os lábios e, por consequência, o narizinho arrebitado acompanhava o movimento, que ficou eternizado pela bruxinha em desenho da abertura do programa. Em outros momentos, Samantha, como os outros bruxos, usava movimentos dos braços para conjurar um encanto, desaparecer ou realizar outros truques.

10) A casa dos Stephens já apareceu em diversas séries - da época e até atuais -, tanto por "dentro" como por "fora". Isso porque a Columbia Pictures possui um rancho em que foi montada uma espécie de rua circular, com diversas fachadas de construções, que serviram e ainda servem às produções da companhia. Já as cenas internas eram gravadas em estúdio, o que não impediu de se usarem os cenários para séries como Jeannie é um Gênio. Apenas quando um incêndio destruiu quase completamente os cenários, nos anos finais do programa, é que a casa de Samantha e Darrin ganhou uma "reforma", mudando vários ambientes, em especial, a cozinha.

Columbia Ranch: a "casa" dos Stephens está assinalada com um retângulo
11) Apesar de ter ganhado o mundo com Bewitched, Elizabeth Montgomery lutou para sair da sombra de Samantha e, de certa forma, passou a ter uma espécie de aversão à série. Durante as filmagens do programa, seu casamento com William Asher se deteriorou, e inúmeras outras situações a fizeram querer o fim do projeto por várias vezes, o que sempre era barrado pelos executivos da ABC, com propostas financeiras e de produção cada vez mais vantajosas. 

Quando a oitava temporada chegou ao fim, com um episódio que já era o segundo remake de um da primeira temporada, não houve proposta que convencesse o casal Montgomery-Asher a levar o projeto adiante. Os números mostravam que a escolha foi sábia: nos anos 70, um show sobre uma dona de casa feiticeira já não fazia muito a praia de ninguém.

Segundo seus amigos e conhecidos, Elizabeth detestava que a pedissem para "mexer o nariz" como Samantha, e, com o passar do tempo, seu distanciamento da personagem cresceu cada vez mais.A partir daí, Montgomery passou a se envolver em projetos que se distanciavam ao máximo do visual doce, cândido e mágico de Samantha: protagonizou os filmes A Case of Rape, vivendo uma mulher violentada duas vezes pelo mesmo homem; The Legend of Lizzie Borden, como a mulher acusada de assassinar barbaramente a própria família; e, no fim da vida, interpretou a repórter Edna Buchanan para dois filmes de televisão.

Samantha Stephens? Bruxinha boa? Passado!
Liz Montgomery no poster de "A Lenda de Lizzie Borden"
12) Na época, Bewitched foi indicada ao Emmy várias vezes, mas só levou o prêmio em três ocasiões: Bill Asher levou o de "Melhor Diretor de Série de Comédia" em 1966 e as atrizes Alice Pearce e Marion Lorne receberam, em homenagem póstuma, o de "Melhor Atriz Coadjuvante em Série de Comédia", pelas personagens Gladys Kravitz e Tia Clara.

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Bewitched esteve no ar por oito anos e, apesar de não ter encerrado sua história com altos índices de audiências, conquistou seu lugar entre as séries que marcaram época na televisão norte-americana e no coração dos fãs pelo mundo.

Já pararam pra pensar que parte desse sucesso se deve, também, à dublagem do show? Afinal, ainda hoje, muita gente não domina outro idioma com a fluência necessária para assistir a uma sitcom, entender e se divertir com as piadas e situações.

Pessoas de diversos países viram Samantha, Darrin, Endora, Larry Tate e companhia falarem seu idioma. O Brasil foi um deles. Essa história, você vai conferir no próximo post!

Abração, e até!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

50 anos de magia - parte 1

Alô, alô, barraqueiros!

Sou um cara nostálgico, provavelmente nascido na época errada, numa dessas trollagens que a vida resolve fazer com o sujeito. Se vocês virem meu perfil na coluna ao lado, vão compreender rapidinho do que estou falando: pesquiso sobre história imperial, ouço música dos anos 70 a 90 e curto séries antigas. Tudo coisa que nem seu avô se lembraria mais, e o garoto aqui, novinho, só 23, com essa cabeça de velho! Hahahahaha

Há certas coisas na vida que conquistam a gente de tal forma que nos levam até a pensar: isso é mágico! Não sei se acontece com vocês, mas, quando isso me ocorre, dificilmente esse estado de espírito é causado por algo novo, atual, coisinha da moda, que tá todo mundo curtindo, falando sobre e postando no Face.

O post de hoje é sobre isso: mais especificamente sobre um programa que, há exatos 50 anos, trouxe um pouco mais de mágica para a vida de muita gente ao redor do mundo.

Então, se acomodem na cadeira, peguem seus petisquinhos e não desgrudem da tela, pois é hora de...

A Feiticeira!
Numa quinta-feira, às 21h, neste mesmo dia, há 50 anos, a rede estadunidense ABC levava ao ar uma sitcom que se tornaria referência na história da televisão pelo mundo, influenciando outros programas e conquistando um espaço na cultura mundial e na memória afetiva de muita gente. Bewitched (literalmente "Enfeitiçado") foi o resultado da união de dois projetos distintos: o sonho do casal Elizabeth Montgomery e William Asher de terem um programa de TV em que pudessem trabalhar juntos e uma ideia de seriado proposta à emissora pelo roteirista Sol Saks, inspirado livremente em filmes sobre o universo das bruxas, como I Married a Witch, de 1942.

O casal sonhador: o produtor William Asher e a atriz Elizabeth Montgomery
Sol Saks: o homem por trás da magia
Liz Montogmery e Bill Asher pretendiam levar para a tela a história de um casal com uma situação inusitada, como o velho conflito "moça rica-moço pobre" ou a esposa ter uma profissão incomum, como frentista de posto. Os produtores com quem o casal conversou deram uma cortada e disseram algo do tipo: a gente já tem uma ideia muito mais maneira! Vamos colocar uma bruxa casada com um mortal. Topa?

Asher topou, Sol Saks (que já tinha bolado o plot - a base da história) escreveu o piloto e, agora, era partir para a caça do elenco. Saks disse uma vez que, quando pensou em sua ideia transformada em série, nunca tinha imaginado a personagem interpretada por Elizabeth Montgomery. Unindo o útil ao agradável, o roteirista viu sua ideia tomar forma e o casal conseguiu ter seu espacinho na TV. 

Com a atriz principal definida, dois problemas urgentes tinham que ser solucionados: o marido mortal e a mãe da bruxinha. Dizem as lendas que Liz Montgomery encontrou-se com a veterana do rádio e teatro Agnes Moorehead em uma loja e fez o convite. A atriz teria respondido com um vamo ver no que isso vai dar... com aquela pontadinha de ironia muito típica da Endora e ganhou o papel na hora.

Grande dama dos palcos e do rádio, Agnes Moorehead não levou muita fé no projeto,
mas topou o desafio de encarnar Endora, a mãe de Samantha

Quanto ao Damian Dorian Darrin (para nós "James", mas isso fica para o próximo post), as coisas demoraram um pouco mais a andar e foram realmente curiosas: Bill Asher e os produtores pensaram na hora em Dick Sargent, que vinha se destacando em séries da época, mas o ator estava preso a contratos. 

Dick Sargent: não foi de primeira, mas acabou entrando na dança, no fim das contas...
Não deu? Parte pra outra!

Sai Sargent, entra York: o ator que deu vida, cara e personalidade a Darrin/James
e conquistou os fãs da série
Saiu Sargent, entrou York. O outro Dick era um conhecido ator de televisão, com uma carreira consideravelmente estruturada no cinema. Fizeram o teste, o rapaz passou e, pode reparar, o casal tinha uma química... 

Foco! Foco!

Com o trio central já escalado, as gravações puderam começar. O ano era 1963. Mal o trabalho começou, a produção da série teve que lidar com duas bombas: 1) Liz estava grávida; 2) O então presidente dos Estados Unidos John Kennedy foi assassinado no exato dia em que as filmagens começaram (22 de novembro). A equipe decidiu por não parar. Quanto à bomba 2, não se podia fazer nada, mas quanto à primeira, o jeito foi improvisar: As filmagens dariam preferências a cenas em plano geral ou enquadramento em primeiro plano, além de providenciar roupas mais largas para a atriz dar aquela disfarçada na barriguinha. Afinal a série só estava começando, e um bebê - definitivamente - não estava no script.

Liz e Asher no set de filmagens, em algum momento da primeira temporada:
mesmo com a comoção nacional pela morte de JFK, o show tinha que continuar
Mas, por pouco Bewitched não foi ao ar. Bill Asher rodou com o piloto do show por várias emissoras, mas ninguém queria comprar a ideia: numa nação culturalmente puritana como os Estados Unidos, bruxaria era coisa do demônio, portanto, um assunto proibido para a TV. Na ABC, o produtor teve sorte e, com o patrocínio da Quaker Oats (aquela, do véio na caixa da aveia), numa quinta-feira, 17 de setembro, às 21h, uma típica garota americana, que se chocou contra um típico rapaz americano, apareceu pela primeira vez na tela da TV, e conquistaria o coração da América e, depois, do mundo!

Em sua estreia, a série foi um sucesso, perdendo apenas para Bonanza, porque a negada nos States ainda se amarrava num clima de far west (ou faroeste, pros íntimos). Até o quinto ano, Bewitched sempre esteve entre as 15 séries mais assistidas pelos americanos, ainda que, consideravelmente, os números estivessem em vertiginosa queda e, nas últimas duas temporadas, a série já nem constasse mais entre os 25 programas preferidos no país.

Ainda assim, o sucesso foi violento - e duradouro. Afinal, Bewitched foi enviada pra todos os cantos do mundo (Já imaginou Samantha falando japonês?), é reprisada até hoje por emissoras de diversos países, inspirou bonecas, brinquedos, artigos de mobiliário, peças de arte e um montão de referências em desenhos, filmes, programas de humor e, mesmo, outras séries? 

Alguns fatores podem explicar esse fenômeno:

1) As situações eram curiosamente corriqueiras e normais, se a gente considerar que era uma série sobre magia. Quem conhece Harry Potter sabe bem do que eu estou falando.

2) Os atores eram realmente muito bons. O elenco contava com gente que tinha larga experiência em teatro, cinema e em outras séries de TV. Alguns dos coadjuvantes, como a atriz Alice Pearce (a primeira Gladys Kravitz) eram notáveis na comédia, o que garantia a presença de humor no show.

3) A química de Elizabeth Montgomery com o público. Costumava-se dizer nos Estados Unidos que toda moça queria ser Samantha, todo rapaz queria uma Samantha para si e toda criança queria que Samantha fosse sua mãe. A atriz conquistou incontáveis gerações com seu jeito doce, o talento para resolver as confusões à sua volta e a famosa mexidinha com o nariz (não era bem o nariz que se mexia, mas isso a gente conta depois).

Acho que alguém está sobrando... só acho, rsrs...

4) A química entre Darrin e Samantha. Apesar de proibir a esposa de fazer bruxarias, mas se ver cercado pela família exótica (pra não dizer doida) da esposa e passar mais tempo sendo transformado em animais ou mandado para situações esdrúxulas, Darrin amava Sam, e a relação funcionava. Uma parte fundamental disso foi a atuação de Dick York, que, para a maioria dos fãs da série, criou a perfeita imagem - histericamente divertida - do marido mortal que, segundo o nome original da série, era "enfeitiçado", e cuja vida nunca mais seria a mesma.
Gostou do post?
Esta é a primeira parte da homenagem que o Barraco do Leon vai fazer em comemoração aos 50 anos de A Feiticeira!
No próximo post: curiosidades sobre a série original e informações sobre a trajetória do programa no Brasil!

Não perca!

Abração, e até!