sábado, 20 de setembro de 2014

50 anos de magia - parte 3 (final)

Alô, alô, barraqueiros!

Se vocês tiveram paciência de ler tudo nos acompanharam até aqui, espero que estejam gostando de conhecer um pouquinho sobre esse mágico programa que, mesmo após cinco décadas, continua encantando fãs de todas as idades.

Preparem-se, pois é hora do episódio final da homenagem aos 50 anos de...


A Feiticeira
Mas, antes, vamos falar de coisa boa? queria compartilhar umas lembranças com vocês.
O brasileiro que entrou no universo das redes sociais no longínquo início dos anos 2000 (ô, como parece longe, hein?), como eu, teve, durante muito tempo, o finado Orkut como uma "segunda casa". No Orkut, muita gente fez amigos, teve gente namorando, casando e tendo filhos, outros redescobriram parentes perdidos mundo afora. Era o tempo da galera disputando o topo da lista de depoimento dos colegas, do só add com scrap, dos perfis lotados I, II e III e delas: as comunidades absurdamente movimentadas em que, se você piscasse, já havia perdido 999 postagens.

E o que isso tem a ver com a série?

Calma, que eu já explico!

Em minha casa, fomos ter computador com internet em 2003, mas, no ano 2000, meu pai fez uma aquisição que "abriu o mundo" para a família: uma antena parabólica (pode rir, hahaha). Afinal, pra quem só podia escolher entre SBT, Globo, Band e Record, ter 30 canais (sim! 30!) foi um avanço e tanto! Com a parabólica, a gente conheceu a ErreideTV RedeTV!, mas o que mais mexeu comigo foi uma sessão que começava às 19h e apresentava duas séries com a cor meio diferente, uma aparência meio velha, mas que me prenderam na hora: Jeannie é um Gênio e... A Feiticeira.

Gostava das duas, mas A Feiticeira ganhou meu coração. Assistia sempre que podia, tentando driblar meu pai, impaciente para mudar de canal para assistir o noticiário. Pouco depois, veio o computador, a internet discada (lembra do sufoco?), posteriormente substituída por sinal a rádio. Comecei a conhecer o mundo virtual e, logo, o Orkut chegou à minha vida. Foi nesse ambiente que eu descobri uma comunidade que, de certa forma, mudou várias coisas em minha vida de fã de seriados: a "Série A Feiticeira".

Logo comecei a conversar com o dono, um rapaz da minha idade, e nos tornamos bons amigos, de conversar horas a respeito da série, comentando episódios, imaginando teorias e falando, principalmente, sobre a dublagem da série.

Bewitched foi lançada em 1964, nos Estados Unidos, como já contei pra vocês. Curiosamente, o delay gigantesco que temos aqui para receber as coisas de fora não aconteceu com a série. No ano seguinte, o programa chegou para ser dublado em terras brasileiras. Quem assinou o trabalho foi a clássica e tradicional Versão Brasileira AIC São Paulo, para ser exibida pela extinta TV Paulista (posterior emissora paulista da TV Globo).

Nessa época, a dublagem brasileira começava a se consolidar. Apesar da precária tecnologia, se comparada à disponível no exterior, o time de atores da voz dava um verdadeiro banho no que a gente vê hoje em muitas produções. A "versão brasileira", introduzida no Brasil na década de 1930, mas funcionando, pra valer, a partir dos anos 40/50, contou, desde seu início, com atores e atrizes do elenco radiofônico, das radionovelas e programas humorísticos, o que explica a gente ouvir vozes empostadas e pronúncias mais carregadas (com erres vibrantes) em dublagens desse primeiro período. Além de uma experiência pioneira para muitos deles, a dublagem se tornou uma fonte extra (ou, por vezes, principal). Muitos atores passaram a se dedicar majoritariamente à nova atividade.

A AIC (Arte Industrial Cinematográfica) São Paulo foi a primeira gigante no mundo da dublagem. Antes do famoso Versão brasileira: Herbert Richers pra tudo que é lado, era a narração da AIC que era ouvida nos créditos de filmes, desenhos e seriados, como... A Feiticeira!

Vamos às curiosidades da nossa versão brasileira? Vem comiiiiiiiiiigo!

1) Com oito temporadas, Bewitched foi, provavelmente, a série mais longa dublada ininterruptamente pela AIC São Paulo, em seus pouco mais de dez anos de existência.

2) Apesar de o nome da série significar, literalmente, "Enfeitiçado", dirigindo o foco para Darrin, o mortal da história, é fácil notar que Samantha reina muito mais do que o marido (sorry, Dumbo!) no pedaço. Logo, numa história em que a protagonista é uma bruxa, o título escolhido para o show no Brasil foi bem óbvio. Certo? Errado. Quem tem acesso aos DVDs vai perceber que nos seis primeiros episódios, mais ou menos, o narrador da abertura anuncia As Feiticeiras, no plural. Isso se justifica, ao meu ver, pela presença constante de Endora nos primeiros momentos. Vai que o tradutor pensou que o foco ficaria nas duas, né nom? Só depois, a série passou a ser anunciada como a conhecemos A Feiticeira.

 

De "Enfeitiçado" para "A Feiticeira"

PS.1: Pelo mundo a série teve nomes ainda mais diversos, desde os semelhantes Hechizada e Embrujada, nos países de língua espanhola, a Ma Sorcière Bien-Aimée ("Minha Feiticeira Bem Amada", na França), Vita da Strega ("Vida da Bruxa"), na versão italiana, e Verliebt in Eine Hexe (Apaixonado por uma Bruxa), em alemão. Em alguns países, a série é exibida com áudio original e legendas na língua local.



Capa do box da Sétima Temporada em algumas versões.

PS.2: Nossos patrícios portugueses receberam a série com a dublagem brasileira! Mas como gostam de complicar tudo, resolveram trocar o simples A Feiticeira por Casei com uma feiticeira, título usado até nos DVDs lançados por lá.

DVD português... com dublagem brasileira, ora pois!

3)
 Mais uma da versão brasileira: nos outros textos, só chamei o marido de Samantha por seu nome original - Darrin -, enquanto qualquer pessoa que já tenha ouvido uma coisinha sobre o programa o conheça por James. Diabeisso? Um nome tem nada a ver com o outro! Realmente, os nomes não são equivalentes, nem se parecem, se a gente ler ou falar assim, conscientemente.

Em uma entrevista com Rita Cleós, uma das vozes de Samantha, apresentada no blog Universo AIC (do meu amigo da época do Orkut Marco Antônio, um professor e pesquisador fanático pela AIC, que me ensinou muita coisa a respeito), a dubladora conta que a ideia de substituir o nome do personagem foi do primeiro tradutor da série, Hélio Porto (também dublador e diretor de dublagem). O tradutor alegou que o nome era mais comum no Brasil e a sincronia labial ficaria certinha. Mesmo o nome Darrin Stephens aparecendo escrito em alguns momentos da série, os brasileiros aprenderam a chamá-lo de James, e fim da história.

4) Eu disse na curiosidade anterior, que Rita Cleós foi uma das vozes de Samantha, e é isso mesmo. Apesar de muita gente não se dar conta, a voz da bruxinha não foi sempre a mesma. A primeira dubladora selecionada para fazer Samantha falar português foi Nícia Soares, que já havia dublado a Betty Rubble, em Os Flintstones, por exemplo.

Nícia Soares, a primeira voz de Samantha
Dona de uma voz mais doce - e um pouco mais radiofônica -, Nícia dublou Sam na 1ª temporada e começou a dublar a seguinte, mas decidiu se afastar, pois preferia fazer participações menores, que lhe segurassem menos no estúdio. Como os episódios não vieram em sequência, quem possui os DVDs pode estranhar a mudança de vozes durante a temporada 2.

Rita Cleós, a dubladora definitiva de Samantha e a voz de Serena

É quando entra Rita Cleós, atriz de teatro, que havia participado de várias iniciativas pioneiras no início da TV no Brasil e, agora, mostrava seu talento atrás do microfone. A dubladora (que também foi tradutora e chegou a dirigir dublagens) ficou até o final da série e, no meio do caminho, ganhou mais uma personagem: Serena, a prima "fora do normal" de Samantha.
5) Aliás, quando o assunto é troca de vozes, A Feiticeira foi uma série campeã, o que não desqualifica ou diminui o primor do trabalho, vão por mim. Mesmo que algumas coisas pareçam estranhas, como as gírias da época, talvez a qualidade do som, ou mesmo as vozes diferentes, vão por mim, 50% do sucesso da série e de sua permanência na memória afetiva e auditiva de milhares de brasileiros se deve ao trabalho da equipe AIC.

Essas trocas aconteceram basicamente pelo tamanho da série. Com oito temporadas (anos), A Feiticeira levou muito tempo para ser dublada. Os atores nem sempre estavam inteiramente disponíveis para serem escalados - alguns momentaneamente, outros em definitivo -, o que levou os diretores de dublagem a fazer substituições.

Com base nos trabalhos de pesquisa do Thiago Moraes (dono da extinta comunidade "Série A Feiticeira", no Orkut) e do Marco Antônio (do blog Universo AIC), eu montei a tabelinha abaixo, com os dubladores dos personagens principais:


Separei as temporadas e personagens por cores. Nos casos em que a personagem não aparece, o período está em amarelo, com a legenda correspondente. Os nomes com fundo rosa são dos atores que ficaram durante muito tempo com o personagem, sem interrupções. Alguns dubladores citados, só deram voz ao personagem em uma aparição, em determinada temporada. Ainda assim procurei citá-los ao máximo, para trazer a informação bem completinha para vocês!

5) Como a maioria das séries, a abertura de A Feiticeira no Brasil não foi modificada, contando apenas com a narração do título em Português (mais comum nos primeiros dois anos) e dos episódios (em períodos alternados). Nos DVD's, a partir da 6ª temporada, um narrador mais recente anuncia o nome da série.

6) O programa foi exibido em praticamente todas as TVs abertas, entre os anos 60 e 80: TV Paulista (onde estreou), TV Excelsior (extinta), TV Record, TV Tupi (extinta), TV Globo e TV Bandeirantes. Não dou certeza, mas algumas pessoas afirma ter visto a série na TV Manchete (também extinta). Só não passou no SBT (pô, Sílvio! Vacilou...). A última TV aberta a trazer a série foi a RedeTV!, que deixou de exibi-la em abril de 2007. Depois, uma emissora pequena, chamada Rede 21 colocou A Feiticeira no ar, mas não transmitia para todo o Brasil. Os fãs, então, tiveram duas opções: comprar os DVDs ou torcer pra que alguém disponibilizasse para download ou postasse episódios no Youtube.

7) Os produtos estrangeiros vinham para o Brasil (para serem dublados e/ou exibidos) em rolos de filme. No processo de dublagem nos anos 1960, a gravação das vozes e/ou efeitos sonoros era feita em uma fita magnética acoplada ao filme. Muito frágil, essa parte de áudio sofre com a ação do tempo e do manuseio constante tanto ou mais do que a parte das imagens. O som vai se perdendo, até não ser possível escutar coisa alguma.

A Feiticeira rodou na mão de muita gente e, com certeza, não ia escapar de algumas avacalhações. Por sorte, o estrago foi pouco. Enquanto muitas dublagens de séries e filmes hoje são completamente perdidas, dos 254 episódios de A Feiticeira, apenas quatro não possuem mais seu áudio em português, pelo menos oficialmente e disponível para as emissoras. Nos DVDs, esses episódios foram lançados com áudio em inglês e legendas em Português.

7) Você certamente conhece algumas das vozes que dublaram os personagens dessa série tão querida. Pra te ajudar, confira os rostos e alguns papeis famosos desses grandes atores.

Primeira voz de Dick Sargent (6ª temporada) na série,
Osmiro Campos é também conhecido como...
Mestre Linguiça, digo, digo, Professor Girafales e demais personagens
de Ruben Aguirre nas séries de Chespirito

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Helena Samara (já falecida), a principal voz de Endora, também responde por...


Dona Clotilde, a bruxa, digo, a senhorita do 71, e demais personagens
de Angelines Fernandez na dublagem clássica de Chaves, Chapolin etc. ou...

Wilma Flintstone, no desenho clássico.
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Sílvio Navas, que dublou Maurice, também é conhecido como...
Muuuuuuun-Haaaaaa: o de vida eterna!
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O genial Olney Cazarré, que mais tempo dublou James
(nos dois atores), podia ser visto também como...
... o corintiano João Bacurinho, da Escolinha do Professor Raimundo.
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O enfezado "Fernando", do Canal Parafernalha, atende pelo nome de Sílvio Matos,
mas, na série, encarnou o piadista Tio Arthur
Como eles, os dubladores da série deram voz a diversos personagens que encantaram - e ainda encantam - os fãs de televisão e cinema no Brasil. Foi por suas vozes que nossos personagens favoritos puderam falar português e ficarem mais próximos de nós!

Aos dubladores - vivos e falecidos - da AIC São Paulo, que contribuíram para abrilhantar a trajetória da série no Brasil, muito obrigado!

Minha gratidão também aos amigos da época do Orkut Marco Antônio e Thiago Moraes pelo trabalho fantástico no resgate de informações sobre a série!

Créditos de foto: Google e Bewitched.net.
Referências: Harpies Bizarre (site especializado em Bewitched)Wikipedia (em inglês)Blog do Thiago Moraes (fã e pesquisador da série)Universo AIC (do estudioso e amante da AIC, Marco Antônio) e InfanTV (Artigo sobre a série e elenco).


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That's all, folks!
Chegamos ao fim desta série de posts em homenagem aos 50 anos de A Feiticeira, que, com o poder de um narizinho, conquistou os Estados Unidos, o Brasil e o mundo!
Espero que vocês tenham gostado e tido paciência com os textos quilométricos, mas foi por uma boa causa e continuem conosco nos próximos posts!

Abração, e até!

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