Alô, alô, barraqueiros!
Estou de volta, no post da semana, e quero continuar compartilhando com vocês um pouquinho da minha paixão por escrever.
A era da Internet trouxe muitas tendências. Na rede, as pessoas têm espaço publicar o que quiserem e, da mesma forma como produzem conteúdo, também acabam consumindo. Comunidades e fóruns se mostraram um lugar perfeito pra essa troca de opiniões e material de todos os tipos, incluindo histórias - entre elas, as fanfics (apelidinho carinhoso para fan fiction, nada mais do que histórias criadas por fãs de séries, livros, filmes, outras histórias e tudo o mais que você imaginar).
Também acabei entrando nessa onda e me aventurei a escrever alguma coisinha. Como fã de A Feiticeira (não sei se vocês perceberam, rsrs), escrevi quatro histórias como se fossem episódios da série, mas acabei criando outras coisas não tão específicas, participando de competições e desafios de fanfics pela Internet afora, em sites e fóruns que talvez nem existam mais.
Revendo esses textos, sinto como se já tivessem passado muitos anos. Mudou o estilo, talvez a escolha das palavras... vejo nessas histórias certa inocência de alguém se aventurando em um namoro com a escrita olha aí, eu falando como se já fosse um Sidney Sheldon, mas que começava a pensar nessa relação como algo mais sério, o que acabou virando, mesmo: não é à toa que me tornei jornalista!
Motivado por essas lembranças todas, quero trazer pra vocês hoje um dos frutos de minhas antigas visitas ao Universo das Palavras. Deixo para vocês: London's Night
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Londres, 1930
A música no ar era doce, suave e
envolvente, como a brisa leve que abraçava Londres naquela noite. Jovens casais
aproveitavam o frescor e a tranquilidade para passearem juntos, abraçados,
pelas calçadas e pontes da cidade, como que imersos na certeza de que somente o
amor, o momento presente, bastava. Não haveria razão para se ocupar com mais
nada.
Ah, como ele desejava estar assim
com o objeto de seu amor, de mãos dadas, sob o brilho prateado da lua cheia, cúmplice
dos apaixonados naquela noite londrina. Era tudo o que ele mais queria, mas não
lhe era permitido.
O homem parou em frente ao luxuoso
prédio do Babylon Coffee, o mais concorrido de toda a Londres, frequentado
apenas pela alta sociedade local. Belas mulheres, em seus faustosos vestidos de
festa desciam de carros igualmente caros, conduzidas pelas mãos dos choferes, ou, muitas vezes, dos
distintos cavalheiros com quem passariam horas agradáveis conversando, bebendo
e assistindo aos famosos números artísticos da sedutora Julie Joy, a cantora do
lugar. Não havia dúvidas: era ali que Lady May Carlton estaria. Viver cercada de
riqueza, luxúria e poder era sua vida, seu destino e sua perdição.
Cena do filme "Dinner at Eight", com Jean Harlow - 1933 |
O som do piano invadiu
os ouvidos de Edgard e, logo, todos os sentidos estavam plenos daquela música
lenta, envolvente, que o fazia desejar, mais do que nunca, estar com May,
fazê-la compreender que nada valia mais do que o amor que existia entre os
dois. Nem que, para isso, fosse preciso fazer em pedaços a harmonia orgulhosa e
soberba daquela gente.
Edgard Hastings deixou o casaco
negro com um carregador e adentrou o salão. As luzes estavam apagadas. As
mesas, repletas. Apenas um facho de luz, forte, intenso, era possível divisar:
ele incidia diretamente para a cortina rubra que vedava o palco.
Não tardou, porém, para que ela se
abrisse. Sob discretas, mas constantes palmas, a estonteante moça elevou seu
rosto e libertou a voz. Novos acordes saltaram do piano e encheram a sala.
Julie Joy estava no palco. O amor estava no ar.
Deanna Durbin, cantora e atriz, 1940 |
Como num código secreto, instintivo,
os casais se levantaram para dançar e Edgard calava dentro de si um desejo de
gritar “Hey, preguem-se a seus lugares! Vocês estão me atrapalhando a
encontrá-la! Deixem-me vê-la!”, mas não poderia fazê-lo, se quisesse ter uma
chance, mesmo que mínima, de levar até o fim o plano que o trouxera àquele café.
Como num sonho, Julie Joy cerrou
por um instante os brilhantes olhos verdes e deixou a delicada e alva face
inclinar-se levemente, como se fosse adormecer. O jovem não pode desviar-se
daquele gesto, pois, foi seguindo aquele doce rosto que ele divisou May
Carlton, sentada, como uma imperatriz, à melhor mesa da casa... sozinha!
Veronica Lake, atriz, 1940 |
A voz melodiosa da cantora entoou
mais dois versos e o tempo parou. Edgard sentiu o vento frio invadir o salão e
notou que a resistente chama da grande lareira parecia atiçar-se ainda mais, ao
invés de extinguir-se. Ele cruzou o salão, e, enquanto passava, era seguido
pelos olhos curiosos de damas e cavalheiros. O homem continuou andando, com os
olhos fixos nela, que, incrivelmente, era a única pessoa em todo o salão que
parecia não tê-lo notado.
Sua mão, morena e firme,
estendeu-se, delicadamente, num convite:
_ Lady Carlton, me concederia o
inestimável prazer desta dança? – a voz deslizou suavemente, mas firme, sem
hesitação, num pedido gentil e transbordante de amor.
A jovem ergueu a face branca, quase
marfínica, de traços tão imponentes, e ao mesmo tempo, tão frágeis, e lhe
dirigiu os olhos cinzentos numa expressão que mesclava o assombro e uma fingida
indiferença.
_ Você... – limitou-se a dizer,
como que também petrificada.
Os dois olhares se cruzaram uma vez
mais, numa batalha intensa, confusa e turbulenta, travada, ora no íntimo dos
corações, ora nas faces, sentida, acompanhada, assistida silenciosamente por
todos os casais ali presentes.
_ Será que outra vez serei obrigado
a esperá-la, May? Não serão suficientes os dez anos passados desde a última vez
em que nos vimos? Dez anos exilado, obrigado a viver longe de você, lutando
para não enlouquecer cada vez que a sua imagem me vinha à cabeça, em nome do
que você dizia ser “o melhor para nós”? Não. Desta vez, eu não ficarei
esperando, não serei obrigado a deixar a pessoa a quem mais amo, por causa do
que pensam os outros. Eu estou aqui, Lady May Carlton, e estou por você. Eu
enfrentei tudo e todos por sua causa. E por isso me encontro aqui, com minha
mão estendida. Você realmente me deixará cruzar aquela porta outra vez?
Os olhos dela se estreitaram,
furiosos, inflamados, parecendo querer devorar o homem a sua frente, fazê-lo
pagar por expô-la de tal forma, diante dos mais influentes membros da sociedade
londrina, de seu meio, onde Lady Carlton era quase uma rainha. Ela se levantou,
quase disposta a destruí-lo, mas, ao olhá-lo nos olhos, soube que não poderia
fazê-lo.
Edgard Hastings continuava com a
mão estendida e moça não precisou olhar outra vez para aquela mão e para os
verdes olhos do moreno parado à sua frente. Era agora ou nunca. Era aquela
dança. Era o momento deles. Julie Joy começou a cantar novamente, o som do
piano preencheu outra vez a sala, os casais voltaram ao centro do salão e, no
meio da classe mais rica e tradicional de toda a Londres, o operário e a filha
de nobres dançavam juntos, de olhos fechados. Juntos, para nunca mais se
separarem outra vez.
Foto publicitária, provavelmente do meio cinematográfico, anos 40-50 |
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O que acharam? Devo continuar tentando? Comentem aí!
Espero que tenham gostado e que continuem comigo em minhas próximas viagens...
Abração, e até!
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