Rei do Camarote, Corona e as tretas da música pop

Alô, alô, barraqueiros!

Se vocês não passaram o primeiro semestre enfiados em uma caverna sem luz, alimentos e contato com o mundo exterior, certamente viram o surgimento dessa figura:

Rei do Camarote agregando valor a este post!

Alexander de Almeida, o Rei do Camarote, surgiu das profundezas de sabe-se lá onde, saiu na Veja São Paulo, conquistou fama instantânea, transformou-se em viral na internet e desapareceu numa velocidade que desafiaria até o corredor Usain Bolt.

Mas não é sobre essa figura esquisita, parecendo sempre meio chapadão, com suas frases confusas e todo trabalhado na ostentação que eu quero escrever hoje. 

Olhe bem pra foto acima.

Olhe mesmo.

Mas olhe com atenção...

... e me diga se uma das primeiras coisas que te vêm à mente não foram essa musiquinha:

♩♫ This is the rhythm of the night... the night... oh, yeah... ♩♫

Ah, vá! Confessa que você já viu o fanfarrão levantando a tacinha de champagne, com aquela cara abobada e essa musiquinha rolando solta... XD

Quem já tinha mais de uns doze anos em 1994 eu não, desculpa, sou novo, certamente se lembra do estouro que foi The Rhythm of the Night e essa moça aí do vídeo, a Corona. A canção foi lançada primeiro na Europa, em 1993, ganhou as baladinhas pelo mundo todo, chegou aos Estados Unidos, fazendo o maior sucesso e, logicamente, ia acabar chegando ao Brasil também, o que aconteceu no ano seguinte. A coisa deu tão certo, que a menina chegou até a se apresentar na televisão por aqui.

Mais do que nunca... Corona, no seu Domingão!

De cara, você já vê a mocinha falando em bom e velho português, sem sotaque, enrolação ou frescura. Hoje, isso não é mais novidade. Corona, ou melhor, Olga de Souza, é brasileira e resolveu investir no país de origem na tentativa de retorno ao cenário musical. A cantora já apareceu em tudo quanto é programa, nos canal tudo, deu entrevista no Danilo Gentili e até participou de gincana dominical no Rodrigo Faro pra dizer que tá de volta. Sente a vibe:

Meus cabelos mudaram e meu inglês tá ó...

Notou alguma coisa diferente?

Aliás, tá difícil é achar alguma coisa semelhante, né? Uma propaganda antiga, do shampoo Colorama, lá nos anos 70, tinha um bordão que ficou famoso, mais ou menos assim: "Meus cabelos mudaram, mas a minha voz continua a mesma." No caso da nossa amiga Corona, não é só a cabeleira que sofreu uma transformação: quando a gente ouve a música, não parece a mesma voz que fez a galera dançar enlouquecida ao som de Baby, Baby, The Rhythm... e outros hits chicletes que dominaram as festas dos anos 90.

Isso teria uma explicação simples, mas que deixaria muito fã da cantora chocado ou, no mínimo, desapontado: Olga não teria cantado nem The Rhythm of the Night, nem Baby, Baby, nem qualquer um dos outros singles da fase estrondosa da banda Corona.

Banda Corona? Mas Corona não é a moça?

Sim e não. Corona foi o nome de um projeto de eurodance italiano criado pelo produtor musical Francesco "Lee Marrow" Bontempi no início dos anos 90. O novo ritmo estava se consolidando na Europa e começou a ganhar o mundo. Sob o nome Corona, foi lançado em novembro de 1993 o primeiro hit (a musiquinha do Rei do Camarote) apenas na Itália, para só no ano seguinte jogar a canção na roda mundial. Vieram em seguida Baby, Baby e Try Me Out, grandes hits, e I Don't Wanna Be a Star, que não foi lá tão bem.

O meio era muito restrito e, assim, colaborações rolavam soltas entre os grupos e projetos da eurodance. Letristas, instrumentistas e até as cantoras faziam tudo pra todo mundo, numa bagunça organizada em que, de certa forma, todo mundo saía ganhando. É aí que entra a questão polêmica. A italiana Giovanna Bersola (a.k.a Jenny B) e a inglesa Sandy Chambers eram duas cantoras muito requisitadas no meio e gravaram pra todo mundo e mais um pouco. Com o projeto Corona não foi diferente. Jenny B teria entrado no barco primeiro e seria a voz por trás de The Rhythm..., sendo substituída, depois, pela Sandy Chambers, que assumiu os hits seguintes.

Tá confuso? Veja os vídeos abaixo. Vão te dar uma forcinha...

Jenny B cantando "The Rhythm...", a partir de 1:40. Compare com a música lá em cima no post...
E ela ainda canta outros sucessos da Corona!

Olga cantando "de gogó" mesmo, em 2012, na Rússia

O videoclipe de "Baby, Baby"

Sandy Chambers, num live - sofrível, eu sei - de "Baby, Baby"

"Baby, Baby" na voz da Olga, também em 2012 

Segundo contam as lendas, o projeto Corona tinha nome, hits, mas precisava de um rosto. Jenny B e Sandy Chambers não seriam boas figuras comerciais, então, o negócio era achar alguém que entrasse como o visual da banda. 

Olga, nascida em Vigário Geral, periferia da cidade do Rio de Janeiro, tinha feito de tudo um pouco na vida, até que, segundo ela conta, por um conselho de Pelé, resolveu tentar a sorte na Europa. Foi para a Espanha, passou por Portugal e acabou se instalando em Roma. Foi aí que Lee Marrow a conheceu e achou sua mina de ouro. A parceria estava formada, a brasileira se tornou "líder" da banda e conquistou o mundo. Muito carismática - e com a boa ajuda do playback, que já tinha virado "de lei" no mundo da música há um bom tempo -, Olga conquistou o mundo e encarnou tão bem o papel que, até hoje, mesmo já tendo se apresentado em português aqui no Brasil (no auge do sucesso, e agora, na volta), engana muita gente.

Então, chegamos ao presente. Depois de fazer muito show de revival dos anos 90 por aí, Corona (ou Olga) resolveu apostar numa coisa nova, repaginou o visual e tá na batalha com o trabalho novo. Se é bom ou não, se vai emplacar ou não, eu prefiro não fazer comentários, apesar de ficar com a impressão de que o tempo dela realmente já passou (o pouco sucesso dos discos seguintes ao The Rhythm of the Night contribuem muito pra que eu pense assim).

Diz-se que, na eurodance, foi comum essa prática de cantoras de estúdio serem dubladas por modelos com aparência mais comercial, para alavancarem os projetos. É o que teria acontecido com a Corona.

E aí, o que me dizem? A Corona é brazuca ou não é?

ATUALIZAÇÃO (07/05/17)!!!
Acabei descobrindo que, em 2006, Sandy Chambers regravou "Baby Baby", mas nem preciso dizer que não recebeu projeção, né?
Sente só:

A música na "nova" roupagem, com as imagens do live de 2007.

Mas, aí, quando eu achava que não poderia vir novidade nesta história, a internet traz isto:

♩♫ This is the rhythm of the farm... The farm... Oh, yeah! ♩♫

Nossa superstar-brasileira-que-meio-mundo-não-sabe-que-é-daqui-apesar-da-internet fazendo o dever de casa direitinho na modelagem, na atuação, no quesito sorriso, mas... será que tá rolando gogó aí? Ou será que o lip sync mandou lembranças?

Digam aí nos comentários!

Abração, e até!