sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Ray Charles entre nós - Histórias da televisão no Brasil

Alô, alô, barraqueiros!


Estamos de volta!

Pelo título do post, vocês já perceberam que o assunto será histórico, nostálgico, coisa velha, mesmo (hehehe), mas garanto que vai valer a pena, nem que seja como curiosidade!

A música é uma forma de arte que, como todas as outras, se transforma com o passar do tempo. Além de ser, basicamente, um meio de expressão do interior humano - sentimentos, experiências, desejos, o próprio talento/conhecimento -, a música se funde em um contexto cultural, social, histórico, em certos casos político... no fim das contas, acaba estando envolvida em muito mais do que apenas a satisfação de um prazer sensorial.

A música fala de dentro... e de fora!
O certo é que, nessa caminhada histórica da música, com sua imensidão de gêneros, estilos e características próprias que não vou aprofundar aqui porque não sou obrigado, algumas coisas acabam se consagrando como referência em seu contexto (isso quando não passam a influenciar outras áreas)! É o que a gente costuma chamar de clássico - e não, não estou fazendo uma definição da palavra, apenas quero usar o termo para expressar essa ideia, valeu? ;)

Quando o clássico encontra o velho... ou vice-versa
Uma característica comum do que chamamos de clássico é a "idade". Diz aí se vocês não associam "clássico" a "coisa velha" (ainda que seja no bom sentido)? Né nom?

Me chamou de velha?
Não, dona Eudóxia, não é com a senhora!...
O que eu trago hoje pra vocês é um bom exemplo disso. Mas, antes...

Senta, que lá vem a história!
Na longínqua década de 1960, muito antes de eu, a maior parte dos meus leitores e a torcida do Flamengo e toda essa geração que cresceu assistindo Xuxa, Eliana e TV Globinho nascermos existiu uma emissora de televisão chamada Excelsior. Pode-se dizer que, em termos de importância, ela só perde pra (também extinta) TV Tupi, porque esta foi a primeira do Brasil.

A Excelsior foi, em seu tempo, mais ou menos o que a Globo é hoje: tirou o setor da acomodação, chegou trazendo coisas novas, investindo pesado em recursos, em contratação de cast artístico, na produção de atrações variadas e inovadoras e, em especial, se preocupou com uma coisinha que a gente pode chamar de padrão de qualidade (quem aí já ouviu falar do "Padrão Globo de Qualidade", hein? Hein?), que se refletia tanto no cuidado com os produtos e com as próprias escolhas de profissionais, quanto, até mesmo, na pontualidade - foi a Excelsior que iniciou a prática das transmissões horizontal (mesmo programa sempre no mesmo horário) e vertical (um programa acaba e começa outro cujo conteúdo é afim, para manter o público).

Tupi, a pioneira
Excelsior, a inovadora
Logo logo, ela se tornou líder de audiência, primeiro em São Paulo, onde era sua sede, e depois em todo o Brasil, pois a emissora começou a implantar o conceito de rede, em que emissoras menores, em outros estados, retransmitiam os programas das principais (geralmente no eixo Rio-São Paulo). Na Tupi, por exemplo, a emissora paulista (a primeira do Brasil), tinha a Tupi carioca como adversária!

Mas, então, vamos ao que interessa: à época, já existia a TV Record (que não começou com o Macedão, mas isso é história pra outro post...) que, na tentativa de já desbancar a Tupi, era quem apostava na programação musical (vocês já devem ter ouvido falar dos Festivais da Canção), trazendo, também, artistas internacionais fodões da época, como Louis Armstrong, Nat King Cole e Ella Fitzgerald.

A Record bem que tentou, mas não levou a parada...
Quando a Excelsior apareceu, entrou na briga e investiu pesado pra desbancar também a Record e, para isso, trouxe quem? Trouxe Ray "o gênio" Charles ao Brasil, em 1963! O homem veio com 40 pessoas na bagagem (seus músicos e as Raylettes, suas backing vocals) e parou São Paulo. A vinda foi tumultuada, com direito a confusão diplomática envolvendo visto, tentativa de sabotagem pela Record, que acabou em processo, e uma multidão de fãs que prendeu o cantor por 15 minutos na porta do Teatro Cultura Artística, sede da emissora e onde o show aconteceria, para dar autógrafos (parece zoeira, mas não é, hahahaha).

Ray Charles na Excelsior!
Mas, como diz o ditado, tudo está bem, quando acaba bem. Ray Charles fez o programa por quase uma hora, se apresentou duas vezes na capital paulista e no Rio de Janeiro e voltou pros States. A vinda do astro rendeu um disco especial, batizado com um nome um tanto messiânico Ray Charles entre nós, que vendeu pra caramba.

Uma receita para a alma... Poético, hein?
O post de hoje é sobre esse show d'O gênio, gravado em São Paulo em 1963, que apareceu lançado em DVD em 2005, nos Estados Unidos.

O quê? Como assim nos Estados Unidos? Mas o show não foi no Brasil?

Pois é! Quase nada sobrou dos programas da Excelsior aqui no Brasil, por várias razões. O fato é que, se existe esse show inteiro - pasmem, com os comerciais da época - devemos única e exclusivamente ao próprio Ray Charles, que, segundo a lenda, exigia uma cópia de toda apresentação que fazia. É da fita que o artista levou que surgiu esse DVD, lançado, entre os Yanquees, como "Ô-genio - Ray Charles - Live in Brazil 1963" (isso mesmo: Ô-genio), que hoje apresento a vocês, graças ao nosso querido Youtube!

Atentem para a legenda no verso:
"'Ô-genio' means The Genius in Portuguese"!
Épico!
Aos fãs dos clássicos, do jazz, do soul, enfim, da boa música, que se torna eterna, com vocês, em uma de suas melhores apresentações: o gênio, Ray Charles!

Combo: trecho inicial + What'd I Say + propaganda + encerramento

You Are My Sunshine

Don't Set me Free

My Bonnie

In the Evening (When The Sun Goes Down) - belíssimo instrumental!

Hit the Road, Jack (fantástica!)

Hallelujah, I Love Her So

E pra fechar, "o gênio" arrasando no sax, com um instrumental de jazz

Espero que vocês tenham gostado!
Abração!
Até!!!

Fonte auxiliar: http://cartazes-internacionais-no-brasil.blogspot.com.br/2013/09/ray-charles-in-1963-at-tv-excelsior.html
Imagens: Google Images

2 comentários:

Amigo(a) barraqueiro(a) de plantão!
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