sábado, 17 de janeiro de 2015

Cara de um... Gêmeos na TV brasileira

Alô, alô, barraqueiros!


Olha a gente de volta pro post semanal do Barraco do Leon!
Sejam bem-vindos, puxem suas cadeiras e se acheguem, que o papo já vai começar.

Já pensaram como é ter um irmão gêmeo?

Talvez alguns entre vocês até tenham irmãos gêmeos, mas isso não acontece a torto e à direito, né não?

A existência e a vida de irmãos gêmeos sempre despertou interesse na história da Humanidade. Lendas muito antigas, como a de Rômulo e Remo (que estariam envolvidos na fundação de Roma), estão aí para provar.

Segundo a lenda conta, os gêmeos, depois de abandonados pelos pais em uma floresta,
foram encontrados por uma loba que os amamentou, até serem salvos por um pastor 
E os papos sobre supostos dons sobrenaturais compartilhados por irmãos que nasceram juntos? Telepatia, capacidade de sentir o que o outro sente... já falaram tanto sobre isso, em tantos lugares e de tantas formas que ficar tocando no assunto é até bobagem. Então, vamos ao que interessa!

Além do interesse pelos gêmeos aparecer na História, a arte também já abordou o tema, principalmente na Literatura, no Cinema e, mais "recentemente", na TV.

Billy e Bobby Mauch, em o "Príncipe e o Mendigo", de 1937
Certamente, vocês devem conhecer a famosa obra "O Príncipe e o Mendigo", do Mark Twain, que já foi traduzida e adaptada centenas de vezes, virou filme nos Estados Unidos por volta de 1930 (e várias outras vezes depois disso) e chegou até a gerar uma novela no Brasil produzida pela Record nos anos 60, acreditam?

Até a Disney tirou sua casquinha da história, em 1990.

E, no cinema, ainda teve Bette Davis em dobro, no filme A Stolen Life (Uma Vida Roubada, no Brasil), um filme em que a criatividade reinou imensamente para fazer Kate e Patricia aparecerem juntas e interagirem! O filme era cortado, quadro por quadro e emendado. Além disso, em certas cenas, uma das personagens era cortada e inserida no quadro em que a outra aparecia, num proceso minucioso (e extremamente trabalhoso) de edição e montagem, tudo para permitir que Bette Davis contracenasse consigo mesma, em 1946!!!


Mas, voltando a falar em TV brasileira, essa tendência de gêmeos na dramaturgia brazuca é bem mais velha do que a gente imagina! Pra quem viu outro dia a reprise de Mulheres de Areia, com a Glória Pires se desdobrando nos papeis das irmãs Ruth e Raquel (a boa e a má, respectivamente, porque história com gêmeos sem maniqueísmo não rola, né mesmo?) talvez até saiba que a versão de 1993 é um remake da trama original de 1973 (Olha aí! Exatamente 20 anos depois!), em que as gêmeas eram interpretadas por Eva Wilma. E adivinha de onde a autora Ivani Ribeiro foi tirar inspiração para a história (e até para cenas da novela? Da Bette Davis e suas gêmeas, acima!

Glória Pires como Ruth (a boa, à esquerda) e Raquel (a má, à direita):
sucesso certo...
A original fez um baita sucesso, e não era pra menos: Eva Wilma dava um show fazendo quatro papeis na mesma trama!

Peraí? Como quatro? Tá doido? Não eram duas as gêmeas?

Sim, quatro! Como em toda história de gêmeos que se preze, uma tem que substituir a outra. Só que, em Mulheres de Areia, as duas trocaram de lugar!

... que repetiu o enorme sucesso da primeira versão, com Eva Wilma
interpretando as gêmeas (Ruth, à esquerda, e Raquel, à direita)
Então, imagina: Eva Wilma fazia Ruth e Raquel, mas também fazia Ruth se passando por Raquel e Raquel se passando por Ruth! E tinha que pensar por dois personagens nessas substituições, já que nenhuma das duas imitaria a outra com perfeição!

Né bacana?

Mas engana-se quem pensa que Ruth e Raquel foram o primeiro par de gêmeos a dar as caras na televisão brasileira.

Ana Rosa em papel duplo na novela "Alma Cigana", de 1964:
as gêmeas Estela (uma freira) e Esmeralda (uma cigana)

Até onde pude pesquisar, a atriz Ana Rosa foi a pioneira ao confundir os personagens de uma história e os telespectadores interpretando personagens idênticas, mas com vidas totalmente opostas em Alma Cigana, exibida pela extinta TV Tupi em 1964, deixando a questão: Eram gêmeas? Sósias? Ou apenas uma pessoa com dupla personalidade? No fim, foi revelado que como em todo bom dramalhão eram irmãs separadas na infância. Foi a primeira novela diária da Tupi e a primeira no "horário nobre", o das 20h. Talvez tenha sido também a primeira produção a usar o videotape, especialmente para a edição de vídeo, já que, em algum momento, as duas teriam que se encontrar, o que ocorreu no capítulo final.

Falando nisso, colocar gêmeos em uma história no começo da televisão dava um trabalho danado! Já dei uma pista de como isso era algo muito complicado no cinema, quando mencionei o filme A Stolen Life, com Bette Davis.

Com a chegada do videotape, o processo de gravação das novelas acabou ficando parecido com a produção dos filmes, gravados em películas. Então, vamos aos detalhes:

Como dificilmente se teria um par de atores gêmeos para protagonizar as tramas, era sempre um ator (ou atriz) fazendo trabalho duplo. Em uma época sem os recursos tecnológicos como o cromakey, que hoje salvam muitas produções que desejam colocar gêmeos em suas histórias com mais realismo, a saída era apelas para três técnicas (que, curiosamente, são utilizadas ainda hoje):

1) Cenas cortadas, com closes em cada uma das personagens, estilo ping-pong: câmera em uma, que fala, câmera em outra, que responde. É claro que as cenas eram gravadas de forma independente: fazia-se toda a parte de uma das personagens e, depois, toda a parte da outra. As fitas, posteriormente, eram cortadas em emendadas para dar a ideia de sequência.

2) Gravação com um dublê, que aparece sempre de costas, enquanto a câmera pega o ator/a atriz de frente, dizendo as falas de uma das personagens. Gravava-se uma parte completa, parava-se a gravação, acontecia a troca de roupas e, depois seguia-se a gravação com a sequência da história, agora registrando o outro gêmeo de frente.

3) Por fim, a missão mais difícil: fazer os gêmeos/as gêmeas aparecerem ao mesmo tempo na tela, interagindo. Via de regra, a gravação acontecia da mesma forma explicada nos tópicos anteriores. Uma personagem diria suas falas, aguardaria, em silêncio, o tempo da resposta da outra até terminar o texto da cena. A diferença toda estava, agora, no modo como isso era filmado: tampava-se metade da lente da câmera, deixando livre apenas o lado em que o ator/a atriz estaria aparecendo no primeiro momento. Ao fim da gravação e, após a troca de roupas e outras providências, trocava-se o lado tampado da câmera e gravava-se a cena toda novamente, agora sob a perspectiva da segunda personagem. Na edição, as fitas eram cortadas - manualmente, quadro por quadro! - na vertical, e emendadas, fazendo a mágica acontecer: os irmãos (ou as irmãs) apareciam lado a lado, conversando e interagindo, numa boa!

Essa vibe de gêmeos em novelas caiu tanto nas graças do povo que Ana Rosa repetiu a dobradinha Estela&Esmeralda em A Selvagem (que foi, basicamente, um remake da primeira novela) e, como citei acima, Ruth e Raquel apareceram em 1973, para em 93 darem o ar da graça mais uma vez, fazendo grande sucesso.

Fora as histórias com personagens idênticos por serem irmãos, apareceram muitos casos de "sósias": pessoas que seriam apenas "muito parecidas" uhum, sei, sem ter qualquer parentesco e, por um acaso do destino, uma acabava assumindo o lugar da outra, tipo o Inácio e o Fabian, interpretados pelo Ricardo Tozzi em Cheias de Charme:


Inácio e Fabian: cara de um, focinho do outro, mas, gêmeos? Na-na-não!

Mais pro fim da novelinha, descobriu-se que Inácio teve seu rosto modificado por ordens de uma namorada enlouquecida, que queria transformá-lo em seu "Fabian particular".

E, por fim, já houve casos de personagens com personalidades múltiplas, como a famosa interpretação de Glória Menezes, na primeira versão de Irmãos Coragem, da TV Globo.

Glória, como a tímida Maria de Lara (ao lado de Tarcísio, como João Coragem)...
... que se "transformava" na impulsiva Diana
Glória interpretava a reprimida Maria de Lara, uma moça doente, cuja família não entende bem o que de verdade a aflige. O que acontece é que a moça sofria com uma enfermidade que a fazia ter personalidades múltiplas, surgindo Diana, um extremo oposto à sua personalidade, e Márcia, um meio termo entre as duas, tão diferentes. O joguinho entre as moças confundiu o mocinho, a família e a cidade, mas não os telespectadores, que viam a transformação acontecer na tela. Ao fim da trama, Lara foi operada e se viu livre para viver plenamente feliz com João Coragem. Um típico final feliz de novela, né mesmo?

Aliás, esse filão fez tanto, tanto sucesso, que não apenas produzimos histórias com gêmeos: importamos! Quem aí não se lembra das irmãs Paola Bracho e Paulina Martins, de A Usurpadora, novela exibida trocentas vezes pelo SBT, que já passou a ser quase uma propriedade dos brasileiros, tamanho o sucesso?

Paulina e Paola, de A Usurpadora: você também já viu, confessa aí!
Então, já que falamos dos tipos de dobradinhas vividos por atrizes e atores na televisão brasileira, dando vida a personagens que eram "cara de um, focinho do outro", deixo, abaixo, uma listinha de personagens duplos que já apareceram em nossas novelas. Confiram!

Laura/Ana - Wanda Marlene, em Apenas um Fantasma (Itacolomi - 1964)
Esmeralda/Estela - Ana Rosa, em Alma Cigana (Tupi - 1964)
Bruno Vieira/Henrique Varela - Carlos Zara, em Vidas Cruzadas (Excelsior - 1965)
Luciano/Mário - Hélio Souto, em Os Irmãos Corsos (Tupi - 1967)
Meggy/Dolly Parker - Yoná Magalhães, em A Gata de Vison (Globo - 1968/69)
Maria de Lara/Diana/Márcia - Glória Menezes, em Irmãos Coragem (Globo - 1970/71)
Eduardo/Tom - Carlos Eduardo (Kadu Moliterno), em O Príncipe e o Mendigo (Record - 1972)
Esmeralda/Estela - Ana Rosa, em A Selvagem (Tupi - 1971)
Rosana Reis/Simone Marques - Regina Duarte, em Selva de Pedra (Tupi - 1972)
Hugo Leonardo/Raul de Paula - Tarcísio Meira, em O Semideus (Globo - 1973/74)
Ruth Araújo/Raquel Araújo - Eva Wilma, em Mulheres de Areia (Tupi - 1973/74)
Aquilino Matos/Pablo - Raul Cortez, em Tchan, a Grande Sacada (Tupi - 1976/77)
Maria Alves/Maria Dusá - Nívea Maria, em Maria, Maria (Globo - 1978)
Ambrósio/Ambrásio (o Sombra) - José Lewgoy, em Feijão Maravilha (Globo - 1979)
Paloma Gurgel/Fred (gêmeos! homem e mulher!) - Dina Sfat, em Os Gigantes (Globo - 1979/80)
João Victor/Quinzinho - Tony Ramos, em Baila Comigo (Globo - 1981)
Luana Camará/Priscila Capricce - Regina Duarte, em Sétimo Sentido (Globo - 1982)
Rosana Reis/Simone Marques - Fernanda Torres, em Selva de Pedra (2ª versão, Globo - 1986)
Bárbara/Joana (Nanette) - Ítala Nandi, em Direito de Amar (Globo - 1987)
Paulo Della Santa/Denizard de Matos - Francisco Cuoco, em O Outro (Globo - 1987)
Zé Luís/Arnaldo - Miguel Falabella, em Mico Preto (Globo - 1990)
Rosa Maria/Rose Marie - Ariclê Peres, em Meu Bem, Meu Mal (Globo - 1990/91)
Maria de Lara/Diana/Márcia - Letícia Sabatella, em Irmãos Coragem (2ª versão, Globo - 1995)
Fernanda/Vivi - Christiane Torloni, em Cara&Coroa (Globo - 1995/96)
Beto e Nando - Werner Schumann e Winny Schumann (gêmeos), em Pista Dupla (CNT - 1996)*
Bartolomeu Guerrero/Félix Guerrero - Antônio Fagundes, em Porto dos Milagres (Globo - 2001)
Lucas/Diogo/Léo - Murilo Benício, em O Clone (Globo - 2001/02)
Telma/Iolanda - Ana Rosa, em O Beijo do Vampiro (Globo - 2002/03)
Esteban Maroto/Adriano Allende/León - Marcos Pasquim, em Kubanacan (Globo - 2003/04)
Marisol/Frida - Danielle Winits, em Kubanacan
Paco Lambertini/Apolo Sardinha - Reynaldo Gianecchini, em Da Cor do Pecado (Globo - 2004)
Daniel Avelar/Flávio Alencar - Marcelo Serrado, em Prova de Amor (Record - 2005/06)
Eduardo/Joãozinho - Pedro Malta, em Prova de Amor
Nininha/Mariana - Júlia Magessi, em Prova de Amor
Marco Aurélio/Marco Antônio - Ricardo Pereira, em Prova de Amor
Omar Pasquim/Pereira - Francisco Cuoco, em Cobras e Lagartos (Globo - 2006)
Orã/Conchita - Luís Mello, em Cobras e Lagartos
Martim/Luciano - Carmo Dalla Vecchia, em Cobras e Lagartos
Henriqueta/Tereza - Cássia Kiss, em Cobras e Lagartos
Eva/Esmeralda - Eliane Giardini, em Cobras e Lagartos
Jonas/Joilson/Joelson - Hugo Gross, em O Profeta (2ª versão, Globo - 2006/07)
Paula Viana/Taís Grimaldi - Alessandra Negrini, em Paraíso Tropical (Globo - 2007)
Adriano/Mariano/Dona Drica - Daniel Boaventura, em Malhação (Globo - 2008)
Amadeus/Bernardo Cordeiro - Luciano Szafir, em Promessas de Amor (Record - 2009)
Miguel/Jorge - Mateus Solano, em Viver a Vida (Globo - 2009/10)
Albano/Padre Isidro - Gulherme Weber, em Tempos Modernos (Globo - 2010)
Safira/Aurora - Suzana Pires, em Flor do Caribe (Globo - 2013)
Inácio/Fabian - Ricardo Tozzi, em Cheias de Charme (Globo - 2012)
Marali/Analu - Heloísa Perisée, em 2ª Dama (Globo - 2014)

*Um caso raro de gêmeos atuando em uma mesma produção, fazendo, também, irmãos! Pista Dupla foi uma série do canal CNT.

Então, se lembravam de tanta gente fazendo papeis duplos (ou até triplos!) nas novelas brasileiras?
Pode haver ainda outros personagens não mencionados aqui.
Se lembram de mais algum? Comentem!

Fonte consultada:
Site Teledramaturgia

Abração, e até!

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