sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Divergências Conjugais - nº 2

Alô, alô, barraqueiros!

Ó nóis aqui de novo, com nosso post de sexta!

Tive alguns retornos muito importantes quando postei meu primeiro texto pra teatro, o Divergências Conjugais - nº 1 (se vocês ainda não viram, que é que ainda estão esperando? corram lá e confiram!), uma experiência realmente nova, especial, muito bacana pra mim! Os que me conhecem pessoalmente, já sabem que sempre gostei de escrever, e vocês que me leem também já descobriram, né nom?

Então, vamos ao que interessa: tô trazendo hoje o segundo texto da série!
Sim, da série!
Me propus a escrever cinco cenas curtas sob esse nome e com esse foco: mostrar situações triviais, bestas, coisas bem simples e pequenas, que podem acontecer na rotina de qualquer casal, e que provocam discussões - as divergências conjugais do título! Vocês vão perceber que os casais mudam, conforme a história, o que foi intencional. Penso que trazer casais de características diferentes e em situações distintas torna a proposta muito mais interessante e abre as possibilidades de criar!

Torço pra que vocês gostem e estou aberto a sugestões para temas!
Fiquem com o texto!


(Homem sentado no sofá, bem à vontade, como se estivesse vendo televisão. A mulher chega, ajeitando uma bolsa, apressada pra sair. Os dois são adultos jovens, na faixa dos 30 anos. Estão casados há, talvez, quase dez anos. Demonstram intimidade. A ação se passa em uma sala de estar, mobiliada com um sofá e uma mesa como que de jantar ou um console, armário.)

SHEILA (mexendo na bolsa): Amor, busca o Felipinho no inglês, por favor. Estou saindo em cima do horário que marquei no salão e não vai dar tempo, tá?
EDUARDO: Xiii, amor, não vai dar. Hoje é dia do buraco com a galera do clube.
SHEILA: E um jogo de buraco é mais importante do que buscar seu filho, Eduardo?
EDUARDO (se vira para responder): Claro que não, né, meu amor? Mas você sabe que toda sexta-feira eu tenho o joguinho com o pessoal. (volta para a TV – a plateia)
SHEILA (paciente): Mas, amor, você só vai se atrasar um pouquinho! Quando muito, faltar uma vez não vai ser o fim do mundo!
EDUARDO: Nada disso, benzinho! Combinado é combinado!
SHEILA (impaciente): Mas, Eduardo! Eu tenho salão!
EDUARDO: Não dá pra desmarcar?
SHEILA (protesta): Eu tenho que fazer o cabelo, Eduardo!
EDUARDO: Sua chapinha tá quebrada?
SHEILA (impaciente): E o que é que tem a chapinha, Eduardo? Eu vou fazer escova!
EDUARDO: Mas não é tudo a mesma coisa?
SHEILA (segue o tom): Claro que não, criatura! E mesmo se fosse, eu ainda tenho manicure!
EDUARDO (se volta para a mulher): Mas... você não poderia fazer isso aqui? Já te vi pintando as unhas em casa outras vezes...
SHEILA: Isso toma tempo, Eduardo! Tempo que AGORA eu não tenho!
EDUARDO: Por que você não desmarca o salão?
SHEILA (brava): E por que VOCÊ não desmarca o buraco?
EDUARDO: Porque já é um combinado antigo, amor!
SHEILA (entre brava e descrente): E eu é que tenho que abrir mão do meu horário no salão?
EDUARDO (dá de ombros): Busca o Felipinho depois...
SHEILA: E o menino vai ficar esperando duas horas, Eduardo? Francamente!
EDUARDO: Então, liga e manda ele vir de ônibus...
SHEILA (incrédula): E deixar meu filho vir sozinho? Ele ainda é só uma criança, Eduardo!
EDUARDO (olhando para a TV): Então, aproveita que você vai de carro, passa na escola e leva o Felipinho com você!
SHEILA (para si, em médio tom): Ô sujeito egoísta!
EDUARDO: Eu?
SHEILA (abertamente): Dissimulado!
EDUARDO: Nada a ver, Sheila!
(A partir daqui, o ritmo do diálogo se intensifica: um fala e o outro emenda a resposta imediatamente)
SHEILA: E como não? Pra tudo você tem uma desculpa! (irônica) Sua semana é toda ocupada! Às quartas, tem sauna...
EDUARDO (tentando justificar): ... Pôxa, amor, é com a galera do colégio...
SHEILA (inflexível): ... Duas quintas por mês, jogo de boliche...
EDUARDO: ... Convite do chefe, não dá pra não ir...
SHEILA (desafiando): E os sábados, hein? Todo sábado é o maldito chope com aquele bando de pinguços!
EDUARDO: São os caras da bolsa, amor... Vai que numa dessas não descolo um palpite bom de investimento?
SHEILA: E não falha um domingo sem seu amado joguinho de futebol! Na segunda-feira, pelo menos, você chega tarde porque te seguram na empresa, mas até na sexta, Eduardo? (pedindo, sem esperanças) Não pode abrir mão nem da sexta, Eduardo?
EDUARDO: Desculpe, amor, mas você sabe que eu sou um homem de palavra, e o buraco na sexta é sagrado...
A mulher pega a chave do carro de uma mesa, num gesto brusco, urra de raiva e sai de cena. Ouve-se o barulho forte de batida de porta, ao que o marido, por instinto, reage.
EDUARDO (assustado): Êita! É hoje que eu durmo no sereno! (sai correndo de cena)
Blackout.
A cena volta com o casal ao redor de uma mesa de jantar, só os dois, bem próximos. Os dois estão com roupas de sair, como se estivessem num encontro fora de casa. O marido serve uma bebida à esposa, que reage com uns sorrisinhos muito contentes.
EDUARDO (romântico): Gostou da surpresinha, meu amor?
SHEILA: Uhum.
EDUARDO: Viu que eu preparei tudo o que você gosta? Até o escalopinho ao molho madeira, que é o seu favorito!
SHEILA: Pois é, amor!
EDUARDO: E a mousse de morango? Gostou?
SHEILA: Estava ótimo, Dudu! Tudo uma beleza!
EDUARDO (sedutor): Então, Sheila, já que está tudo tão bom, que tal a gente ir lá pro quarto pra... não sei... fecharmos a noite com chave de ouro?
SHEILA (direta/enigmática): Hoje é terça, meu bem!
EDUARDO (confuso): E o que é que tem, amorzinho?
SHEILA (ironia/vingativa): Terça-feira é dia de dor de cabeça. E como eu sou uma mulher de palavra, a dor de cabeça da terça é sagrada.

FIM

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E aí, gostaram?
Comentem, mandem sugestões, me enviem um retorno! A opinião e a força dos leitores é que nos movem a continuar!

Abração, e até!

3 comentários:

  1. Gostei do texto 1 e 2 da Série, legal, vou acompanhar. Você escreve muito bem, parabéns!

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    Respostas
    1. Muito obrigado, Sâmara!
      Continue conosco! Vou aguardar seu retorno em postagens futuras!
      Ajude-nos a divulgar!
      Um abraço!

      Excluir

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