Se estão, eu não sei, mas que isso acontece, acontece.
E, muitas vezes, você está lá, sentadão em frente ao sofá, relaxado, em seu momento de ócio, quando se levanta de um salto e grita ou não: Epa! Já vi isso antes!
Há muitas décadas, os brasileiros se acostumaram a consumir produtos de culturas estrangeiras, em especial o que é made in USA. Além das músicas, um mundo de séries, filmes, desenhos e outros programas, livros e impressos de tudo quando é jeito invadem o país a torto e a direito. Tem quem torça o nariz, mas tem que adore e se sinta quase um nativo dos States, cercado por tanta referência cultural norte-americana (ou misture tudo com a cultura brasileira, que já é bem misturada, e faça John virar João e tá tudo em casa).
Antes que me apontem dedos, me chamando de xenofóbico ou de hipócrita, já me defendo:
eu também consumo meus importados, viu? U_U Tem muita coisa vinda de fora que me agradou, conquistou mesmo, e chamou mais atenção do que equivalentes brazucas ou elementos culturais dos mesmos segmentos produzidos aqui. Pode ser triste, mas é verdade, gente... Desde música, quadrinhos a séries (
ah, as séries... Quem leu meus últimos posts entende o que eu tô falando, rsrs).
FOCO!
Voltando ao ponto: de tempos em tempos, a indústria cultural (e seus produtores, escritores, roteiristas, tomadores de decisão e gente endinheirada que não sabe onde enfiar tanta grana) resolve sacudir a poeira, revirar o baú e requentar alguma coisa que tenha feito muito sucesso
ou não, na tentativa de ganhar mais dinheiro
ou não e contentar fãs saudosos e profundamente nostálgicos
ou não, além de, quem sabe, abocanhar uma nova leva de vidradinhos para o lado negro da força.
O
King Kong, de 1933, gerou seis
remakes e já tem mais um, pra chegar em 2017. Já
A Fantástica Fábrica de Chocolate, de 2005, desenterrou o original, de 1971, e fez o primeiro Willy Wonka (tão esquisito quanto o interpretado pelo
igualmente bizarro Johnny Deep) viralizar na internet. Até o famosão
Titanic, de 1997, ganhador de onze Oscars, pode ser considerado, de certa forma, um
remake, se a gente considerar que a história do naufrágio do RMS Titanic, em 1912, já tinha sido contada outras cinco vezes antes, sendo que os dois primeiros filmes foram feitos no ano do acidente!
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A história de Charlie, Willy Wonka, a fábrica de chocolates e os Oompa-Loompas foi adaptada para o cinema em 1971 e em 2005. |
"Titanic", em duas de suas seis versões: a de 1953 e a de 1997.
Eu poderia dar mais um milhão de exemplos, mas o
Google e a
Wikipedia estão aí pra isso. Então, vamos ao que interessa.
Como, na televisão - e na Arte, de modo geral, eu acho -
nada se cria, tudo se copia, requentar produções não seria exclusividade dos gringos.
Não, senhor! As TVs brasileiras já se valeram muuuuuuito desse recurso pra segurar, trazer de volta ou alavancar a audiência.
Querem relembrar alguns
remakes que marcaram sua infância? Aquela novela que sua avó assistia e não parava de falar e que, anos depois, apareceu repaginada e vocês ficavam brigando pra defender que a "sua" era melhor? Ou, mesmo, se surpreender descobrindo que aquela história, com
mó cara de inédita, já era o
remake do
remake?
Veeeeeem, comeeeeeeeeeeeeeego!
Quando a televisão chegou ao Brasil, a programação era toda ao vivo... e independente! Pois é! As primeiras emissoras surgiram no Rio de Janeiro e em São Paulo e, com o passar dos anos, entre as décadas de 50 e 60, seus donos foram adquirindo outras nos demais estados. O caso é que, em cada lugar, as emissoras tinham cara própria, elenco próprio e, com isso, programação própria. De igual, só levavam o nome, mesmo, na maior parte das vezes. No geral, o conceito de "rede", em que uma emissora principal define a programação e outras apenas reproduzem, integral ou parcialmente, só foi aparecer mais pra metade dos anos 60 e se consolidar na década seguinte.
Apesar de terem o mesmo nome e o mesmo dono, as Tupis de São Paulo (canal 3)
e do Rio (canal 6) eram tão diferentes, que se tornaram rivais!
Por isso, programas como o
Sítio do Picapau Amarelo tinham versões independentes ocorrendo na mesma época, em cidades diferentes com atores distintos. Assim, em 1952, o
Sítio era exibido na TV Tupi do Rio de Janeiro e na de São Paulo com elencos diferentes, contando apenas com a atriz Lúcia Lambertini, que interpretava a "terrível" boneca Emília nas duas atrações.
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Seja no Sítio do Rio.. |
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... ou no de São Paulo, Lúcia Lambertini foi sempre a Emília. |
A obra de Monteiro Lobato recebeu adaptações para o cinema em 1951, com o filme
O Saci, e depois em 1973, com
O Picapau Amarelo. Na TV, após a estreia com sucesso nas Tupis, o
Sítio foi levado em 1964 para a TV Cultura, sem muito êxito, depois para a TV Bandeirantes, em 1967, ficando três anos no ar.
Por último, foi a vez da Rede Globo se transformar na casa dos personagens do Lobatão (e explorá-los até não poder mais). Muita gente se lembra da versão "clássica" dos anos 70, tida por muita gente como a "primeira" do
Sítio na TV (
mas vocês viram que não foi, hahaha). O programa começou em 1977 e durou até 1986, sendo reprisado algumas vezes nos anos 90. Já em 2001, a Globo quis requentar Dona Benta, Narizinho e Cia. Ltda. (
olhaí!) para mostrar à molecadinha que existe programa pra criança
made in Brazil. Essa versão durou até 2007, quando foi cancelada por baixa audiência. Em 2012, surgiu, por fim, a versão em desenho animado, que ainda tem sido exibida.
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O elenco principal (e primeiro) da famosa versão do Sítio nos anos 70. |
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O primeiro elenco da versão anos 2000 do Sítio. |
Mas as adaptações não foram exclusividade dos programas infantis. Os adultos também viram histórias requentadas - algumas vezes, com grande sucesso, enquanto em outras, nem tanto - principalmente quando o assunto é novela. E isso começou a acontecer também já no início da TV brasileira!
Helena, em 1952 -
TV Paulista; em 1975 -
TV Globo; em 1987 -
TV Manchete
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"Helena", na TV Paulista, em 1952 (na foto, Jane Batista, a primeira Helena de Manoel Carlos, e Paulo Goulart) |
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Logo de "Helena", na TV Globo, em 1975 |
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Logo de "Helena", na TV Manchete, em 1987 |
Alô Doçura (série), de 1953 a 1964 -
TV Tupi; em 1990 -
SBT; em 1967, como
A de Amor -
TV Excelsior
Senhora, em 1953 -
TV Paulista; em 1962 -
TV Tupi; em 1972, como
O Preço de Um Homem* -
TV Tupi; em 1975 -
TV Globo; em 2005, como
Essas Mulheres* -
TV Record
A Moreninha, em 1956 -
TV Tupi Rio; em 1965 e 1975 -
TV Globo
A Muralha, em 1958 -
TV Tupi; em 1963 -
TV Cultura; em 1969 -
TV Excelsior; em 2000 -
TV Globo
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Logo de "A Muralha", na TV Excelsior, em 1969 |
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Logo de "A Muralha", na TV Globo, em 2000 |
A Ponte de Waterloo, em 1958, 1959 e 1967 -
TV Tupi
Éramos Seis, em 1958, 1967 e 1977 -
TV Tupi; em 1994 -
SBT
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Logo de "Éramos Seis", na TV Tupi, em 1977 |
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Logo de "Éramos Seis", em 1994, no SBT |
O Pequeno Mundo de Dom Camilo, em 1958 -
TV Tupi (SP); em 1965, como
Padre Tião -
TV Globo; em 1972, como
Dom Camilo e os Cabeludos -
TV Tupi
Cabocla, em 1959 -
TV Rio; em 1979 e 2004 -
TV Globo
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Logo de "Cabocla", na TV Globo, em 1979 |
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Logo de "Cabocla", na TV Globo, em 2004 |
Escrava Isaura, em 1961 -
TV Itacolomi (BH); em 1976 -
TV Globo; em 2004 -
TV Record
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A Isaura de Lucélia Santos, em 1976, e a de Bianca Rinaldi, em 2004 |
A Intrusa, em 1962 e 1967 -
TV Tupi; em 1980, como
Plumas e Paetês*, e em 2000, como
Esplendor* -
TV Globo
2-5499 Ocupado, em 1963 -
TV Excelsior; em 1999, como
Louca Paixão -
TV Record
Alma Cigana, em 1964 -
TV Tupi; em 1971, como
A Selvagem -
TV Tupi
O Direito de Nascer, em 1964 e 1978 -
TV Tupi; em 1997/2001 -
SBT
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Logo de "O Direito de Nascer", na TV Tupi, em 1964 |
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Logo de "O Direito de Nascer", na TV Tupi, em 1978 |
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Logo de "O Direito de Nascer", no SBT, em 2001 |
A Indomável, em 1965 -
TV Excelsior; em 1974, como
O Machão -
TV Tupi; em 2000, como
O Cravo e a Rosa -
TV Globo
A Deusa Vencida, em 1965 -
TV Excelsior; em 1980 -
TV Bandeirantes
As Minas de Prata, em 1966 -
TV Excelsior; em 2001, como
A Padroeira* -
TV Globo
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Logo de "As Minas de Prata", em 1966, na TV Excelsior |
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Logo de "A Padroeira", em 2001, na TV Globo |
Estrelas no Chão, em 1967 -
TV Excelsior; em 1977, como
Espelho Mágico* -
TV Globo
O Morro dos Ventos Uivantes, em 1967 -
TV Globo; em 1973, como
Vendaval* -
TV Record
O Tempo e o Vento, em 1967 -
TV Excelsior; em 1985 (minissérie) e 2014 (microssérie) -
TV Globo
O Terceiro Pecado, em 1968 -
TV Excelsior; em 1989, como
O Sexo dos Anjos -
TV Globo
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Logo de "O Terceiro Pecado", em 1968, na TV Excelsior |
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Logo de "O Sexo dos Anjos", em 1989, na TV Globo |
Antônio Maria, em 1968 -
TV Tupi; em 1985 -
TV Manchete
Véu de Noiva, em 1969 -
TV Globo; em 2009, como
Vende-se Um Véu de Noiva -
SBT
Sangue do Meu Sangue, em 1969 -
TV Excelsior; em 1995 -
SBT
As Pupilas do Senhor Reitor, em 1970 -
TV Record; em 1995 -
SBT
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O reitor (Dionísio Azevedo) e as pupilas (Geórgia Gomide e Márcia Maria) em 1970 |
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O reitor (Juca de Oliveira) e as pupilas (Luciana Braga e Débora Bloch) em 1995 |
Irmãos Coragem, em 1970 e 1995 -
TV Globo
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Logo de "Irmãos Coragem", na TV Globo, em 1970 |
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Logo de "Irmãos Coragem", na TV Globo, em 1995 |
O Meu Pé de Laranja Lima, em 1970 -
TV Tupi; em 1980 e 1999 -
TV Bandeirantes
Nossa Filha Gabriela, em 1971 -
TV Tupi; em 1986, como
Hipertensão -
TV Globo
Meu Pedacinho de Chão, em 1971 -
TV Globo e TV Cultura, e 2014 -
TV Globo
Camomila e Bem-Me-Quer, em 1972 -
TV Tupi; em 1984, como
Amor com Amor se Paga -
TV Globo
Uma Rosa com Amor, em 1972 -
TV Globo; em 2010 -
SBT
Selva de Pedra, em 1972 e 1986 -
TV Globo
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Logo de "Selva de Pedra", na TV Globo, em 1972 |
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Logo de "Selva de Pedra", na TV Globo, em 1986 |
Bicho do Mato, em 1972 -
TV Globo; em 2006 -
TV Record
Jerônimo, o Herói do Sertão (série), em 1972 -
TV Tupi; em 1984 -
SBT
A Grande Família (série), de 1972 a 1975 e de 2001 a 2014 -
TV Globo
Os Ossos do Barão, em 1973 -
TV Globo; em 1997 -
SBT, com elementos de "O Ninho da Serpente", de 1982 -
TV Bandeirantes
Mulheres de Areia, em 1973 -
TV Tupi; em 1993 -
TV Globo, com elementos de "O Espantalho", de 1977 -
TV Record, TV Tupi e TVS (SBT)
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Logo de "Mulheres de Areia", na TV Tupi, em 1973 |
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Logo de "Mulheres de Areia", na TV Globo, em 1993 |
Cavalo de Aço, em 1973 -
TV Globo; em 1988, como
Fera Radical* -
TV Globo
O Bem Amado, em 1973 (como novela), de 1980 a 1984 (como série) e 2010/2011 (como filme e minissérie) -
TV Globo
O Rebu, em 1974 e 2014 -
TV Globo
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Logo de "O Rebu", na TV Globo, em 1974 |
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Logo de "O Rebu", na TV Globo, em 2014 |
A Barba Azul, em 1974 -
TV Tupi; em 1985, como
A Gata Comeu -
TV Globo
Ídolo de Pano, em 1974 -
TV Tupi; em 1993, como
Sonho Meu -
TV Globo, com elementos de "A Pequena Orfã", de 1968 -
TV Excelsior
Escalada, em 1975 -
TV Globo; em 2006, como
Cidadão Brasileiro* -
TV Record
A Viagem, em 1975 -
TV Tupi; em 1994 -
TV Globo
Gabriela, em 1975 e 2012 -
TV Globo
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As Gabrielas da TV: Sônia Braga, em 1975, e Juliana Paes, em 2012 |
Pecado Capital, em 1976 e 1998 -
TV Globo
Anjo Mal, em 1976 e 1997 -
TV Globo
Saramandaia, em 1976 e 2013 -
TV Globo
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Logo de "Saramandaia", na TV Globo, em 1976 |
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Logo de "Saramandaia", na TV Globo, em 2014 |
O Profeta, em 1977 -
TV Tupi; em 2006* -
TV Globo
Dona Xepa, em 1977 -
TV Globo; em 1990, como
Lua Cheia de Amor -
TV Globo; em 2013 -
TV Record
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A dona Xepa (Yara Cortes), de 1977 |
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A dona Xepa (Ângela Leal), de 2013 |
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Logo de "Lua Cheia de Amor", de 1990, adaptação de "Dona Xepa" na própria TV Globo |
O Astro, em 1977 e 2011 -
TV Globo
Carga Pesada (série), de 1979 a 1981 e entre 2003 e 2006 -
TV Globo
Ciranda de Pedra, em 1981 e 2008* -
TV Globo
Paraíso, em 1982 e 2009 -
TV Globo
Seu Quequé (série), em 1982 -
TV Cultura; em 1984, como
Rabo de Saia* -
TV Globo
Guerra dos Sexos, em 1983 e 2012 -
TV Globo
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Logo de "Guerra dos Sexos", na TV Globo, em 1983 |
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Logo de "Guerra dos Sexos", na TV Globo, em 2012 |
Meus Filhos, Minha Vida, em 1984 -
SBT; em 1996, como
Razão de Viver -
SBT
Ti-Ti-Ti, em 1985 e 2010, com elementos de "Plumas e Paetês", de 1980 -
TV Globo
Sinhá Moça, em 1986 e 2006 -
TV Globo
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Lucélia Santos foi a "Sinhá Moça" em 1986. Débora Falabella viveu a personagem em 2006. |
Chiquititas, entre 1997 e 2001 e entre 2013 e 2015 -
SBT
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O elenco de Chiquititas, de 1997 |
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O elenco da versão de 2013 |
A História de Ester, em 1998 e 2010* -
TV Record
Sassaricando, em 1987 -
TV Globo; como
Haja Coração, em 2016 -
TV Globo
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Logo de "Sassaricando", na TV Globo, em 1987 |
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Logo de "Haja Coração", na TV Globo, em 2016 |
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Nesta postagem, trouxe apenas os remakes totalmente brasileiros de histórias já apresentadas antes. Não contei, por exemplo, as versões feitas pelo SBT para seus clássicos dramalhões latinos, como Maria Esperança, de 2007, remake de Maria Mercedes, ou Esmeralda, de 2004, ou, ainda, a contemporânea Cúmplices de Um Resgate, cujas originais já foram todas exibidas pela TV mais feliz do Brasil do Seu Silvio.
Achei mais interessante trazer para vocês, como curiosidade, a informação de que esse recurso de relançar histórias - algumas vezes, quase ipsi litteris, outras vezes, totalmente reformuladas - é algo muito comum na história da TV brasileira, o que não desmerece o talento de autores e atores e a competência das equipes envolvidas. Incluí algumas séries, também (poucas), por ter achado interessante a ocorrência das refilmagens nesses formatos.
Certos romances, há muito esquecidos nas prateleiras de bibliotecas, ganharam vida e fôlego ao serem redescobertos na TV, despertando a curiosidade dos telespectadores/leitores.
Outras histórias, levadas ao ar nos primórdios da nossa televisão, duas a três vezes por semana, transmitidas ao vivo, retornaram às telas décadas depois, aprimoradas, grandiosas, para cativar ou não o público.
Grandes sucessos voltaram, repaginados, para atrair novos telespectadores, que conheceriam uma história "inédita", e prender os antigos, instigando a nostalgia e, muitas vezes, uma "competição" sobre qual é a melhor versão da história.
Nessa brincadeira, autores, diretores e, mesmo, atores, misturaram literatura, cinema, radionovelas e as próprias telenovelas para criar histórias novas (e outras nem tão novas assim), para divertir, educar, contestar, escandalizar... No fim, cada personagem e cada história revela as inúmeras possibilidades guardadas no interior do ser humano.
Espero que vocês, meus barraqueiros, curtam a postagem.
Comentem, compartilhem!
Caso se recordem de algum remake não incluído aqui, por gentileza, comentem!
Abração, e até!
P.S.: Os títulos marcados com um asterisco (*) significam que a novela ou série não foi uma adaptação fiel da antecessora. Em certos casos, apenas o argumento original foi aproveitado, em outros, personagens e histórias se repetiram, mas em outro contexto etc.
P.S.: Artigo atualizado em 01/11/2016
Fonte:
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