quinta-feira, 18 de setembro de 2014

50 anos de magia - parte 1

Alô, alô, barraqueiros!

Sou um cara nostálgico, provavelmente nascido na época errada, numa dessas trollagens que a vida resolve fazer com o sujeito. Se vocês virem meu perfil na coluna ao lado, vão compreender rapidinho do que estou falando: pesquiso sobre história imperial, ouço música dos anos 70 a 90 e curto séries antigas. Tudo coisa que nem seu avô se lembraria mais, e o garoto aqui, novinho, só 23, com essa cabeça de velho! Hahahahaha

Há certas coisas na vida que conquistam a gente de tal forma que nos levam até a pensar: isso é mágico! Não sei se acontece com vocês, mas, quando isso me ocorre, dificilmente esse estado de espírito é causado por algo novo, atual, coisinha da moda, que tá todo mundo curtindo, falando sobre e postando no Face.

O post de hoje é sobre isso: mais especificamente sobre um programa que, há exatos 50 anos, trouxe um pouco mais de mágica para a vida de muita gente ao redor do mundo.

Então, se acomodem na cadeira, peguem seus petisquinhos e não desgrudem da tela, pois é hora de...

A Feiticeira!
Numa quinta-feira, às 21h, neste mesmo dia, há 50 anos, a rede estadunidense ABC levava ao ar uma sitcom que se tornaria referência na história da televisão pelo mundo, influenciando outros programas e conquistando um espaço na cultura mundial e na memória afetiva de muita gente. Bewitched (literalmente "Enfeitiçado") foi o resultado da união de dois projetos distintos: o sonho do casal Elizabeth Montgomery e William Asher de terem um programa de TV em que pudessem trabalhar juntos e uma ideia de seriado proposta à emissora pelo roteirista Sol Saks, inspirado livremente em filmes sobre o universo das bruxas, como I Married a Witch, de 1942.

O casal sonhador: o produtor William Asher e a atriz Elizabeth Montgomery
Sol Saks: o homem por trás da magia
Liz Montogmery e Bill Asher pretendiam levar para a tela a história de um casal com uma situação inusitada, como o velho conflito "moça rica-moço pobre" ou a esposa ter uma profissão incomum, como frentista de posto. Os produtores com quem o casal conversou deram uma cortada e disseram algo do tipo: a gente já tem uma ideia muito mais maneira! Vamos colocar uma bruxa casada com um mortal. Topa?

Asher topou, Sol Saks (que já tinha bolado o plot - a base da história) escreveu o piloto e, agora, era partir para a caça do elenco. Saks disse uma vez que, quando pensou em sua ideia transformada em série, nunca tinha imaginado a personagem interpretada por Elizabeth Montgomery. Unindo o útil ao agradável, o roteirista viu sua ideia tomar forma e o casal conseguiu ter seu espacinho na TV. 

Com a atriz principal definida, dois problemas urgentes tinham que ser solucionados: o marido mortal e a mãe da bruxinha. Dizem as lendas que Liz Montgomery encontrou-se com a veterana do rádio e teatro Agnes Moorehead em uma loja e fez o convite. A atriz teria respondido com um vamo ver no que isso vai dar... com aquela pontadinha de ironia muito típica da Endora e ganhou o papel na hora.

Grande dama dos palcos e do rádio, Agnes Moorehead não levou muita fé no projeto,
mas topou o desafio de encarnar Endora, a mãe de Samantha

Quanto ao Damian Dorian Darrin (para nós "James", mas isso fica para o próximo post), as coisas demoraram um pouco mais a andar e foram realmente curiosas: Bill Asher e os produtores pensaram na hora em Dick Sargent, que vinha se destacando em séries da época, mas o ator estava preso a contratos. 

Dick Sargent: não foi de primeira, mas acabou entrando na dança, no fim das contas...
Não deu? Parte pra outra!

Sai Sargent, entra York: o ator que deu vida, cara e personalidade a Darrin/James
e conquistou os fãs da série
Saiu Sargent, entrou York. O outro Dick era um conhecido ator de televisão, com uma carreira consideravelmente estruturada no cinema. Fizeram o teste, o rapaz passou e, pode reparar, o casal tinha uma química... 

Foco! Foco!

Com o trio central já escalado, as gravações puderam começar. O ano era 1963. Mal o trabalho começou, a produção da série teve que lidar com duas bombas: 1) Liz estava grávida; 2) O então presidente dos Estados Unidos John Kennedy foi assassinado no exato dia em que as filmagens começaram (22 de novembro). A equipe decidiu por não parar. Quanto à bomba 2, não se podia fazer nada, mas quanto à primeira, o jeito foi improvisar: As filmagens dariam preferências a cenas em plano geral ou enquadramento em primeiro plano, além de providenciar roupas mais largas para a atriz dar aquela disfarçada na barriguinha. Afinal a série só estava começando, e um bebê - definitivamente - não estava no script.

Liz e Asher no set de filmagens, em algum momento da primeira temporada:
mesmo com a comoção nacional pela morte de JFK, o show tinha que continuar
Mas, por pouco Bewitched não foi ao ar. Bill Asher rodou com o piloto do show por várias emissoras, mas ninguém queria comprar a ideia: numa nação culturalmente puritana como os Estados Unidos, bruxaria era coisa do demônio, portanto, um assunto proibido para a TV. Na ABC, o produtor teve sorte e, com o patrocínio da Quaker Oats (aquela, do véio na caixa da aveia), numa quinta-feira, 17 de setembro, às 21h, uma típica garota americana, que se chocou contra um típico rapaz americano, apareceu pela primeira vez na tela da TV, e conquistaria o coração da América e, depois, do mundo!

Em sua estreia, a série foi um sucesso, perdendo apenas para Bonanza, porque a negada nos States ainda se amarrava num clima de far west (ou faroeste, pros íntimos). Até o quinto ano, Bewitched sempre esteve entre as 15 séries mais assistidas pelos americanos, ainda que, consideravelmente, os números estivessem em vertiginosa queda e, nas últimas duas temporadas, a série já nem constasse mais entre os 25 programas preferidos no país.

Ainda assim, o sucesso foi violento - e duradouro. Afinal, Bewitched foi enviada pra todos os cantos do mundo (Já imaginou Samantha falando japonês?), é reprisada até hoje por emissoras de diversos países, inspirou bonecas, brinquedos, artigos de mobiliário, peças de arte e um montão de referências em desenhos, filmes, programas de humor e, mesmo, outras séries? 

Alguns fatores podem explicar esse fenômeno:

1) As situações eram curiosamente corriqueiras e normais, se a gente considerar que era uma série sobre magia. Quem conhece Harry Potter sabe bem do que eu estou falando.

2) Os atores eram realmente muito bons. O elenco contava com gente que tinha larga experiência em teatro, cinema e em outras séries de TV. Alguns dos coadjuvantes, como a atriz Alice Pearce (a primeira Gladys Kravitz) eram notáveis na comédia, o que garantia a presença de humor no show.

3) A química de Elizabeth Montgomery com o público. Costumava-se dizer nos Estados Unidos que toda moça queria ser Samantha, todo rapaz queria uma Samantha para si e toda criança queria que Samantha fosse sua mãe. A atriz conquistou incontáveis gerações com seu jeito doce, o talento para resolver as confusões à sua volta e a famosa mexidinha com o nariz (não era bem o nariz que se mexia, mas isso a gente conta depois).

Acho que alguém está sobrando... só acho, rsrs...

4) A química entre Darrin e Samantha. Apesar de proibir a esposa de fazer bruxarias, mas se ver cercado pela família exótica (pra não dizer doida) da esposa e passar mais tempo sendo transformado em animais ou mandado para situações esdrúxulas, Darrin amava Sam, e a relação funcionava. Uma parte fundamental disso foi a atuação de Dick York, que, para a maioria dos fãs da série, criou a perfeita imagem - histericamente divertida - do marido mortal que, segundo o nome original da série, era "enfeitiçado", e cuja vida nunca mais seria a mesma.
Gostou do post?
Esta é a primeira parte da homenagem que o Barraco do Leon vai fazer em comemoração aos 50 anos de A Feiticeira!
No próximo post: curiosidades sobre a série original e informações sobre a trajetória do programa no Brasil!

Não perca!

Abração, e até!

3 comentários:

  1. Eu falo com toda certeza do mundo que "A Feiticeira" é uma das minhas séries antigas preferidas. Boas lembranças das noites na RedeTV em que eu com uns 6/7 anos já acompanhava a série e adorava... Lembrando também que mesmo indo ao ar em 1964, o piloto foi gravado em 1963, ou seja há 51 anos.

    Parabéns Leonardo, você escreve super bem. Pretendo acompanhar as outras partes sobre a série. E aparece mais no FUCH... ;)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Alô, Joel!
      Obrigado pela presença e pelo comentário!
      Já deu pra perceber meu fascínio pela série, né? Haheuhauheua
      Continue, sim, com a gente, para acompanhar as próximas partes!
      Quanto à gravação do piloto, quando chegar 22 de novembro, a gente comemora os 51 anos. Que tal?
      Abraço!

      Excluir
  2. Simplesmente adoro a série,pois bem antes de nascer meu pai já tinha meu nome,saiu de la mesmo( e sem falar de minha irmã Tabitha e meu irmão Jonathas....rsrsrssr),e hoje assisto sempre que me da vontade.São episódios simples cheio de amor e pureza...bem diferente dos seriados de hoje em dia.Parabéns pelo post,continuarei acompanhando.Um abraço Leonardo!

    ResponderExcluir

Amigo(a) barraqueiro(a) de plantão!
Este blog é feito para você, e seu comentário é sempre bem vindo.
Mas seja educado! Se não gostar de algo ou não concordar, esteja livre para comentar, mas sem ofender.
Comentários ofensivos não serão publicados, OK?